domingo, 6 de junho de 2010

O Amor é o Combustível

Quem nunca pensou em fazer uma loucura por amor, para  ter a pessoa que ama ao lado pra sempre? Antônio, que desde criança é chamado de "filho do tempo", resolveu arriscar a vida, viajar no tempo e trazer o mundo até Karina, sua paixão, que sonha em ser atriz e conhecer todo o planeta. O filme A Máquina de João Falcão tem no elenco reconhecíveis caras globais: Mariana Ximenes, Paulo Autran, Wagner Moura, Vladmir Brichta e Lázaro Ramos, mas é no carisma de Gustavo Falcão (o Antônio jovem) que a obra ganha força. A trama é simples: Nordestina, uma cidadezinha do interior pernambucano, Antônio ama Karina, que deseja ir embora na besta pro Rio e tentar carreira de atriz, para evitar que ela faça isso, ele resolve ir até na televisão e num programa que lembra muito João Cléber (até o visual de Wagner Moura ficou parecido), Antônio "vende" sua alma para o público - na busca da audiênca de programas sensacionalistas - ao dizer que vai viajar ao futuro e retornar, caso não aconteça ele morrerá por uma máquina de centenas de lâminas afiadas.

Autran é Antônio velho, vivendo num manicômio e conta essa história sobre o tempo e o amor para seus colegas. A ambientação da cidade de Nordestina é toda feita em estúdio, com algumas licenças poéticas. Os costumes e tradições dessas pequenas localidades são detalhadas com certo fascínio: o baile de mascarados ao som de forró pé-de-serra, a televisão em praça pública, as vans que levam os jovens para a cidade grande, a vida humilde no sertão, os sonhos e desejos de uma vida melhor. A trilha sonora é um show à parte com Chico Buarque e Robertinho do Recife.

É um filme de ficção, onde fantasia e realidade se fundem graças a um elemento crucial: o amor! É o amor de Antônio por Karina que faz ele se jogar nessa jornada, de ir ao futuro, encontrar o desconhecido e voltar inteiro, para não morrer e perder eternamente o coração de sua amada. Num lugar já tão castigado pela pobreza, pela falta de recursos, pela distância de tudo, somente o amor pode alimentar a vida dessas pessoas e fazê-las felizes no seu lar. O filme que ainda tem espaço para criticar a exposição na mídia em busca de sucesso, em sentimentos e valores efêmeros de fama, consegue mostrar toda ingenuidade do protagonista vivido por Gustavo Falcão, com um roteiro leve e coeso e diálogos - ou monólogos - memoráveis, como a narração inicial sobre a relação de Antônio e o tempo, feita por Autran.


3 comentários:

  1. De fato que você está inspirado no amor! Deve estar amando também.

    Ótimo Texto Fernando, Parábens mesmo! Show de bola como diz serginho.

    Abraços! Fica com Deus!

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  2. "Hoje o amor está no ar/ Vai conquistar seu coração". Os versos do samba de enredo da Viradouro, de 1998 retratam bem a coletânea sobre a qual o escritor realiza suas análises durante a semana.

    Texto bem escrito, sucinto, direto, objetivo e permeado por todo amor que norteia o filme e o texto em si.

    Parabéns pela excelente produção.

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  3. Posso pedir? Avisa que o filme tem ascendêcia em Fassbinder (Querelle de Brest), com licenças fortíssimas tendendo à Jeanne Moreau no mesmo filme. A iluminação é perfeita e a trilha sonora um espetáculo à parte. A filmagem em estúdio era um dos principais truques do alemão. A Prazeres Barbosa consegue ser perfeita e, apesar de a trama ser simples, o filme tem ótimos truques narrativos, o principal deles no Baile de Máscaras. Os globais, por seu turno, não seguem a atuação padrão da Globo, distanciando-se muito do piegas, quase Almodóvares. O livro, do qual o filme se originou também tem seu crédito: a originalíssima narrativa de Antônio, em últimas res, no manicômio, deixa a dúvida: o que realmente aconteceu? a viagem ao futuro foi possível? ou somente muito depois Antônio conseguiu viajar? Nordestina desapareceu? Entrou no mapa?

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