domingo, 20 de novembro de 2011

A Segunda Vez

Agora, um jogo rápido sobre três continuações que deram as caras esse ano na telona no meio do ano. Um tira-teima sobre a segunda vez de filmes de sucesso nos cinemas.

Se Beber, Não Case 2: A gangue de amigos atrapalhados estão de volta. O cenário é a Tailândia e a história é uma cópia deslavada do primeiro filme. Tão absurdo e chato, que os momentos mais hilários ocorrem somente com as fotos da desventura nos créditos finais. Ainda assim, é uma das maiores bilheterias do ano e na história das comédias adultas só perde para o primeiro filme da série. Uma fortuna embolsada pela Warner para fazer mais uma viagem exótica numa despedida de solteiro da trupe encabeçada pelo insuportável Alan (Zach Galifianakis mais horrível do que nunca). A amnésia pós-bebedeira e muito besteirol é a medida do filme que perde fôlego e cai na mesmice, sem criatividade e muita escatologia.

Carros 2: A Pixar mantinha um nível em seus filmes que demonstrava toda criatividade e competência do estúdio, mas como ninguém é perfeito, teve sua primeira falha na velocidade de um relâmpago! A continuação de Carros (o original era divertido, mas já não era grande coisa) tem uma trama de espionagem ao redor do mundo, saindo do circuito fechado das corridas americanas tipo Nascar e ganhando o mundo num torneio intercontinental. A relação da dupla Relâmpago McQueen e Mate é explorada ao extremo e a elevação do guincho a personagem principal acaba enfraquecendo a história. Salva-se pelas referências à Fórmula 1 e ao espião James Bond, mas não empolga com as corridas.

Kung Fu Panda 2: Depois de afundar a série Shrek com os episódios 3 e 4, a Dreamworks resolveu apostar em outra continuação de um de seus melhores filmes: Kung Fu Panda. O original recheado de ação e aventura para contar a história do atrapalhado panda Po, que sonhava em ser lutador de kung fu e se torna o Dragão Guerreiro, agora dá espaço para uma trama envolvendo família, origens e uma profecia. O lendário pavão Shen, um filho de nobres que foi banido por querer a guerra, volta a agir com canhões e um exército de lobos para dominar a China e acabar com o kung fu. Assim, Po e os Cinco Furiosos (Tigresa, Macaco, Louva-Deus, Garça e Víbora) terão trabalho para derrotar o inimigo e por isso contarão com a ajuda dos mestres Crocodilo, Boi Toró e Rino Trovão. Enfim, Kung Fu Panda 2 amplia e melhora a história do primeiro com mais ação e emoção, alternando momentos de luta com sentimentalismo, como na história do pai ganso de Po. Além disso, o visual está caprichado, a trilha dita o ritmo com perfeição e as piadas são hilárias. Um filme pra toda família e com muita qualidade.



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sob a Lona

Ventilador. No interior de Minas Gerais, a trupe do Circo Esperança viaja, cidade por cidade, para levar seu espetáculo. Em meio a poeira, calor e privações, esses artistas enfrentam cada obstáculo com o intuito de levar o sorriso e alegria ao rosto de cada morador destes lugares distantes. Valdemar/Palhaço Puro Sangue (Paulo José, vencendo o Parkinson e entregando uma atuação arrebatadora) e Benjamin/Palhaço Pangaré (Selton Mello, mostrando desenvoltura à frente e atrás das câmeras) são pai e filho, respectivamente, e donos do circo. Com a idade avançando, Valdemar passa a Benjamin o trabalho de levar o circo em frente.

Dona Zaira, a velha palhaça não tem mais sutiã para os peitos caídos. Lola, a dançarina rebola com a espada, namora Puro Sangue e embolsa a grana da bilheteria. Os cantores sempre inventam uma desculpa para conseguir um extra. O mágico vive na corda-bamba para cuidar da mulher e da filha, a pequena Guilhermina, que cresce pelo mundo convivendo com os tipos mais excêntricos sem paradeiro e com muito malabarismo para contornar as mais difíceis situações. A cada parada, novos personagens, novas histórias, novos desentendimentos.

Nesse ambiente insólito do picadeiro, Benjamin tenta encontrar um significado para viver. As cobranças dos artistas do Circo Esperança aumentam. Ele tenta fazer um crediário, conseguir um emprego, sair do circo e encontrar uma nova vida, um amor, uma identidade e um ventilador. Afinal, um rapaz já crescido que vivia perambulando pelo mundo, atravessando as serras mineiras, não tinha identidade, CPF, nenhum documento além de uma surrada certidão de nascimento.

Com uma fotografia em tons quentes e envelhecidos para nos situar numa época antiga, onde ventilador era artigo de luxo e o vermelhão da poeira contrasta com o verde das plantações e matas que são cortadas pelas estradas de chão, vamos enveredando por uma história de dor, riso, melancolia e superação. Cada quadro é como se o diretor e ator principal da obra queira fazer uma pintura, um retrato dos sentimentos de cada personagem, que reflete um período e ainda assim são emoções genuínas e atemporais. Há uma inocência marcada pelo tom onírico que a obra se desenvolve. Um ideal de que não importa o que aconteça, somos aquilo que nascemos para ser.

A câmera sempre vai dos opostos: da proximidade intimista com o personagem na tela, um detalhe, um olhar; ou parte do chão até o céu entrecortado pelos morros, num plano amplo, que faz perder a vista no horizonte. Esse cuidado visual acompanhado de atuações honestas embaladas por uma trilha prazerosa e emocional, acaba por entregar o melhor filme nacional de 2011 com sobras e um dos melhores da década com tranquilidade. Selton Mello demonstra maturidade autoral para dirigir uma obra singela que faz rir e chorar nos momentos certos e ao final, as luzes do picadeiro se apagam sob os aplausos entusiasmados do público em pé.