segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Oscar 2011

Uma noite de gala, revivendo momentos marcantes da história. O Oscar 2011 estava com cara que ia se retratar de erros históricos e entrar com pé direito e de cabeça na nova década do século XXI. Entretanto, ao anunciar o melhor filme, Steven Spielberg lembrou grandes filmes vencedores e filmes ainda maiores que foram derrotados que, nesta noite vencedor e perdedores estariam bem acompanhados. Ao lembrar de um certo derrotado, já sentíamos que O Discurso do Rei seria o ganhador, pois A Rede Social que poderia tirar o prêmio, consagrou-se como o Cidadão Kane do nosso tempo.

A Disney fez a festa levando 4 prêmios, dois por Toy Story 3 - melhor animação e melhor canção com "We Belong Together" e, dois por Alice no País das Maravilhas - melhor figurino e melhor direção de arte. A Pixar mantém o reinado nos últimos 4 anos. Com A Origem levando 4 estatuetas (Efeitos Visuais, Fotografia, Mixagem de Som e Edição de Som), sendo o maior vencedor em quantidade da noite ao lado de O Discurso do Rei, outro filme da Warner manteve o tabu e saiu de mãos vazias: Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1, a saga bilionária do menino bruxo que concorria em Direção de Arte e Efeitos Visuais.

O Vencedor brigou e venceu nas categorias de ator e atriz coadjuvantes: Christian Bale e Melissa Leo, ela que recebeu a estatueta de Kirk Douglas, viu o prêmio ser incerto após problemas de autopromoção e campanha a favor da nova Hailee Steinfeld, de Bravura Indômita. Aliás, a refilmagem do western pelos irmãos Coen entrou na briga com 10 indicações e não levou nada, uma decepção, visto que merecia levar em Fotografia, que era simplesmente deslumbrante. E Cisne Negro viu sua bailarina Natalie Portman brilhar e emocionar o público com o Oscar de melhor atriz.

A Dinamarca levou melhor filme estrangeiro com o drama Em Um Mundo Melhor. Enquanto, o Brasil que era cenário do concorrente a documentário Lixo Extraordinário, viu o careca dourado para na mão de Trabalho Interno, sobre a crise econômica dos últimos anos. Entre os curtas-metragem os vencedores foram: o documentário Strangers No More, a animação The Lost Thing e o melhor curta-metragem God of Love. E o terrível filme O Lobisomem ganhou como melhor maquiagem, talvez a única coisa que realmente presta na película.

Os apresentadores Anne Hathaway e James Franco se esforçaram, ela se saiu bem melhor que o colega, que também estava indicado ao prêmio de melhor ator por 127 Horas. O palco com um cenário mais clean deixou a festa com mais interação entre cenário e atores. Os números musicais foram bonitos, apesar que no In Memorian poderiam ter colocado outra cantora no lugar de Celine Dion. Mas, foi uma festa democrática e rápida. Até Josh Brolin e Javier Bardem deram selinho no palco.

Na briga principal estavam A Rede Social e O Discurso do Rei. O filme sobre o rei inglês George VI abriu a festa perdendo prêmios, de 12 indicações levou apenas 4, mas quando levou o Oscar de melhor diretor para Tom Hooper, após ter ganho melhor roteiro original, colocava uma mão na categoria principal. E antes disso, garantiu o esperado melhor ator para Colin Firth. A história do Facebook levou um duro golpe com a derrota do diretor David Fincher, mas chegava confiante para o último envelope, afinal, já havia garantido melhor trilha sonora, roteiro adaptado e montagem, os dois últimos considerados importantes para levar ao filme do ano. Entretanto, quando Spielberg anunciou O Discurso do Rei melhor filme de 2010, percebemos que a Academia de Cinema dos Estados Unidos ainda é uma terra de velhotes, que não gostam de ousar e escolheram o politicamente e plasticamente correto filme de Hooper em detrimento ao ousado, criativo e genial A Rede Social, que nada mais é do que um reflexo da atualidade, dos relacionamentos humanos e do poder da internet.



sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Os Indomáveis

Refilmar um clássico é como mexer com um vespeiro, o risco de ser atacado sem piedade é alto. Quando os irmãos Coen anunciaram que rodariam sua versão para Bravura Indômita, sabiam dos problemas que poderiam enfrentar. Ethan e Joel vencedores do Oscar por Onde os Fracos Não Têm Vez, possuem um currículo diversificado, mas conseguir manter a aura e dignidade do material original deste clássico do western era um desafio que eles decidiram encarar, sem medo de ser feliz com coragem e determinação.

Para quem não conhece ou não viu ou viu e não sabe de outros detalhes, o Bravura Indômita original de 1969, dirigido por Henry Hathaway teve duas indicações ao Oscar, vencendo na categoria de melhor ator com John Wayne. Além do astro, outros nomes de peso faziam parte do filme: Robert Duvall, Dennis Hopper, Glen Campbell e a jovem Kim Darby, no papel de Mattie Ross. Wayne também venceu o Globo de Ouro pelo filme.

Voltando a atualidade. Para manter o nível do elenco para a refilmagem, os Coen escalaram um trio de peso para os papéis masculinos principais: Jeff Bridges, Matt Damon e Josh Brolin. Entretanto, apesar da indicação ao Oscar de  melhor ator para Jeff Bridges (vencedor ano passado por Coração Louco), que revive o papel de John Wayne, é a novata Hailee Steinfeld, de apenas 14 anos, quem rouba a cena como Mattie Ross, uma menina que vai em busca do assassino do pai.

A história adaptada do livro de Charles Portis (assim como o filme de 1969) mostra a pequena Mattie como uma garota determinada e corajosa, que entra no mundo dos adultos para negociar a captura do homem que matou seu pai. E ela embarca na viagem ao lado de um velho xerife para procurar o matador, que está com outros bandidos em território indígena. Haille entendeu a situação, deu o recado e em tela não se mostra intimidada ao encarar grandes nomes do cinema atual, garantindo a vaga no Oscar de melhor atriz coadjuvante. E Bridges com sua competência e carisma costumeiro dá vida a Rooster Cogburn, um federal em fim de carreira, maltrapilho e alcoólatra. Entre os papéis secundários, destaque para o texano personagem de Matt  Damon. La Beouf está na cola do bandido e não vai perder a chance de conseguir a recompensa por Tom Chaney (Josh Brolin).

O couro e tons negros tomam conta do figurino do Oeste americano, enquanto a paisagem oscila entre o escuro das noites de inverno iluminados por fogueiras com o marrom e laranja do sol ao meio-dia comendo poeira. Estamos de volta aos tempos do faroeste e, os Coen não deixam que um quadro sequer da película não transmita esse sentimento. Da trilha sonora encantadora, aos cenários perfeitos e excelente utilização de descampados para emboscadas a cavalo, tudo é um convite para entrar na alma do filme e se levar pela motivação principal: capturar o assassino do pai de Mattie.

Enfim, uma obra acima de qualquer suspeita, que não deve em nada ao original e, ainda ajuda a revelar para o século XXI, o fantástico mundo dos westerns. Resultado: mais de US$ 165 milhões por enquanto (o filme custou US$ 38 milhões) somente nos EUA e 10 indicações ao Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor ator para Bridges, melhor atriz coadjuvante para Steinfeld, melhor roteiro adaptado, melhor edição de som, melhor mixagem de som, melhor figurino, melhor direção de arte e melhor fotografia. Um filme sobre como as situações nos fazem crescer e mostrar isso ao outros, encarando o que vier pela frente. Espetacular!



terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Galinha Preta

O título engraçadinho surgiu numa piada de amigos no orkut. Entretanto, se pararmos para analisar, só pode ter sido uma macumba de galinha preta que fez Nina perder o juízo em Cisne Negro. Darren Aronofski entrega sua visão para O Lago dos Cisnes com extrema elegância e apuro visual. Além disso, com a reconhecida câmera em punho e uma montagem visceral, o diretor entrega uma trama claustrofóbica, esquizofrênica e dilacerante. Sim, Cisne Negro é um filme que chega para perturbar e emocionar.

Natalie Portman é uma das mais belas e melhores atrizes da atualidade, já emprestou seu talento a blockbusters como Star Wars (como a Rainha Amidala, no lixo digital da nova trilogia) e até adaptações de HQs como V de Vingança (o componente mais humano da aventura do herói mascarado). Agora, ela supera limites do corpo e da mente para encarnar uma bailarina obcecada pela perfeição dos movimentos, que sonha em ser o principal nome da companhia e, assim, alimentar os sonhos da frustrada mãe super protetora. 

Com ares de um terror noir e explorando toda sensualidade das atrizes em collant, Aronofski excita ao máximo os atores e arranca de cada um seus desejos mais profundos. Sim, é um filme sobre desejos: a mãe que deseja ver a filha brilhando como ela nunca pôde, a jovem bailarina que sonha em ser a número um, o diretor que almeja ter a glória em uma nova peça, a velha estrela que busca se manter no topo mesmo com o peso da idade, a novata da companhia que simplesmente deseja viver sem medo. Mas, o filme é acima de tudo sobre Nina e em quase duas horas de projeção temos uma overdose de Natalie Portman e isso não incomoda, é quem dá força à película.

Quando Thomas Leroy (Vincent Cassel mais francês e sedutor que nunca) anuncia a saída de Beth, a dançarina principal, ele revela também que pretende fazer uma remontagem de O Lago dos Cisnes para a abertura da nova temporada. As bailarinas ficam em polvorosa. Nina mantém sua frieza e dedicação. Porém, ela sofre ao ouvi-lo dizer que ela é apenas o Cisne Branco, que ela não tem atitude suficiente para ser também o Cisne Negro e, assim, não conseguiria ser a protagonista. Além de pedir para ela analisar os movimentos leves e marcantes de Lily (Mila Kunis, linda, sexy e descolada), uma novata que chama a atenção pela beleza e sensualidade.

Com toda a pressão para conseguir a chance de ouro e ser a nova estrela da companhia, Nina embarca numa jornada contra si mesma. Primeiro, deve perder o pudor, a vergonha e quebrar a redoma na qual foi colocada pela mãe e encerrar uma vida sob o protecionismo. Depois, encarar as investidas do diretor, conhecido garanhão entre os bastidores. Enfrentar a inveja da ex-rainha do balé, que não aceita a aposentadoria, que considera precoce. Disputar a vaga com as colegas de companhia, incluindo a sedutora Lily, recém-chegada ao grupo e totalmente encantadora. Com tudo isso, ela passar a ser sua maior ameaça, pois a integridade está desmoronando, a mente lhe prega peças e a realidade é um mero detalhe.

Entre danças, piruetas, drogas, sexo lésbico e uma masturbação excitante de Portman, ela vai se transformando no cisne negro, literalmente - há momentos de puro surrealismo e excentricidade nas imagens de Aronofski com as mutilações no corpo de Nina. Um delírio visual e estético, comandado por mãos habilidosas do diretor, com atuações inspiradas e chocantes, Cisne Negro é um dos melhores filmes de 2010 e mostra as qualidades que fazem a obra marcar presença em diversas premiações. O Oscar para Natalie de melhor atriz é praticamente uma certeza e totalmente justo, o trabalho dela é exuberante como um cisne e terrível como o lado negro da força. Basta saber até onde a loucura é capaz de nos levar.



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Viagem de Estrelas

Linda, olhos verdes, corpo escultural, boca carnuda, um Oscar no currículo, seis filhos, casada com um dos homens mais lindos de Hollywood, embaixadora da ONU e eleita a mulher mais sexy do mundo várias vezes. Charmoso, malandro, uma face de camaleão, algumas indicações ao Oscar, personagens emblemáticos, cara de família, parceiro de Tim Burton e eleito o homem mais sexy do mundo algumas vezes. Descritos assim, fica fácil saber que falo de Angelina Jolie e Johnny Depp, dois dos maiores astros do cinema atual, com milhões de fãs mundo afora. Então, o que esperar de um filme de ação e comédia com Jolie e Depp fazendo par romântico com cenas em Paris e Veneza? O Turista tem todos esses elementos! Nas mãos de um diretor experiente no assunto, seria um filmaço! Nas mãos do alemão Florian Henckel von Donnersmarck (que dirigiu em longa somente o oscarizado A Vida dos Outros), é um filme qualquer.

Elise é uma bela mulher que está sendo vigiada pelo Serviço Secreto Britânico, suspeita de envolvimento com um bandido chamado Alexander Pearce, que deu um golpe num banqueiro. O amante dá as coordenadas para que a bela mulher embarque num trem de Paris para Veneza e escolha um homem qualquer para que possam acreditar que seja ele, visto que quase ninguém conhece seu rosto. Eis, que ela encontra na viagem o tímido e reservado americano professor de matemática Frank Tupelo, que está na Europa para esquecer uma desilusão amorosa. Claro, ninguém em sã consciência recusaria um convite de jantar vindo de uma deliciosa femme fatale tão envolvente.

No rastro do casal estão uma trupe de inspetores britânicos, com todo seu charme habitual e classe até mesmo nas investidas mais pesadas contra os bandidos. Destaque para Paul Bettany como o inspetor John Acheson e um incontrolável ciúme pela bela procurada. A ação - ou o que podemos considerar como ação - principal acontece em Veneza com perseguições de barcos pelos canais da cidade italiana e até mesmo pelos telhados dos prédios históricos. Depp se vê envolvido numa trama de traição e sedução e nem sequer sabe porque está sendo perseguido pela polícia e por capangas do banqueiro que fora roubado pelo misterioso Alexander Pearce, totalmente deslocado num mundo que não é dele e rende alguns momentos cômicos.

A cenografia aproveita-se das belas paisagens europeias na viagem de trem e do clima romântico de Veneza. O figurino, principalmente, de Jolie é puro glamour e sensualidade realçando o belo corpo da atriz, os britânicos sóbrios e elegantes. Depp arrumadinho é algo raro e ainda assim, fica garboso e hilário. A trilha sonora cumpre bem seu papel. Entretanto, o roteiro cheio de reviravoltas e tentativas cômicas acaba derrapando feio durante a projeção, entregando momentos desnecessários e comprometendo o desenvolvimento da história. E a direção de Florian Henckel von Donnersmarck é preguiçosa (que também é um dos roteiristas do filme), parece que não é a praia dele esse negócio de ação, comédia e estrelas de Hollywood. Falha em todas as tentativas de melhorar o andamento do filme.

A experiência não é de toda ruim. Há alguns momentos engraçados e algumas reviravoltas bem interessantes.  Angelina Jolie em mais um papel de espiã, segura as pontas com beleza e naturalidade. Johnny Depp parece estranhar a situação, fica perdido em umas cenas, parece atuando no automático. Para o público comum é um passatempo ligeiro e divertido. Mas, esperamos um novo encontro entre os dois maiores astros do cinema atual e que seja melhor, quem sabe nas mãos de um diretor mais gabaritado. E ainda assim, O Turista obteve três indicações ao Globo de Ouro 2011 (melhor filme comédia/musical, melhor ator comédia/musical para Johnny e melhor atriz comédia/musical para Angelina) para percebermos como a safra cômica de 2010 foi fraca.




sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Entre Fábulas e Videogames

Para agitar as férias de fim/início de ano, a Disney fez suas apostas com dois filmes em 3D para conquistar desde os mais pirralhos até os adultos mais nostálgicos, a fim de angariar uns milhões nas bilheterias e acrescentar mais uns Oscars no currículo. Entretanto, os resultados não saíram como o esperado: pouca renda para muito gasto e uma miséria de indicações. Assim, Enrolados (adaptação da fábula infantil Rapunzel) e Tron: O Legado (continuação da aventura de ficção que virou cult nos anos 1980), apesar de serem entretenimento de primeira, ficaram aquém das perspectivas da famosa fábrica de sonhos.

Enrolados utiliza-se de aventura e comédia para contar de forma divertida a história de Rapunzel, a jovem princesa sequestrada do reino e mantida prisioneira no alto de uma torre. A obra original que poderia render um clássico da animação, como ocorreram com Branca de Neve e os Sete Anões, Cinderela e A Bela e a Fera, deixou o desenho tradicional de lado, ganhou contornos em computação gráfica e esbanjou do vigor e vitalidade intercalando momentos de adrenalina com sequências musicais boas, bonitas e funcionais dentro da história (o que é muito importante, afinal não basta encaixar uma canção só pra ficar engraçadinha). Tanto que a bela cena das lanternas, onde Rapunzel e Flynn Rider estão num barco teve sua música "I See the Light" indicada ao Oscar de melhor canção. 

Enrolados não conseguiu uma das três vagas para o prêmio de melhor animação e deve ver o primo de distribuidora Toy Story 3 levar mais uma estatueta para a parceria Pixar-Disney. O filme arrecadou quase US$ 500 milhões em todo mundo, mas é pouco comparado com o investimento estimado em US$ 260 milhões, porque o filme foi totalmente refeito pois os produtores não gostaram da qualidade da animação em estilo tradicional e optaram por usar recursos de computação gráfica de alta definição. Os longos cabelos de Rapunzel são extretamente lindos e parecem naturais.

Tron: O Legado (prefiro a sonoridade do título em inglês, Tron Legacy) continua a trama da família Flynn após o cultuado filme de 1982, Tron. E como o título indica, agora o jovem Sam Flynn é quem vai embarcar numa aventura dentro do videogame desenvolvido por seu pai, Kevin Flynn. No antigo escritório de seu pai, Sam é levado para dentro de Tron, um jogo de videogame criado por Kevin. Então, o jovem se torna alvo de uma corrida para salvar a vida, num jogo de lutas contra programas de computador. Clu é o comandante do lugar e é uma cópia de Kevin, que saiu do controle e se tornou um tirano. Sam encontra seu verdadeiro pai e ao lado de Quorra, ele vão em busca de uma saída do local e tentar acabar com os planos de Clu de unir os mundos real e virtual.

Sob a trilha de Daft Punk temos lutas computadorizadas e corridas mortais sobre motos futuristas que deixam um caminho de luz. Os efeitos visuais são espetaculares e compõe todo cenário obscuro do mundo virtual, onde predomina o negro e esparsas luzes brancas iluminam o cenário. A fotografia do mundo virtual potencializa os efeitos nas cenas de corridas nas motos de luz por onde passam e dos figurinos negros com traços fluorescentes ou totalmente brancos em contraste com o cenário - tais cenas em IMAX 3D são sensacionais. Quando divulgaram os sete semifinalistas ao Oscar de efeitos visuais era provável que o longa teria uma vaga, porém, quando anunciaram os cinco indicados, Tron Legacy ficou de fora ao lado de Scott Pilgrim. A única indicação aconteceu na categoria de edição de som, onde o filme abusa de efeitos eletrônicos e de motores, devido às motos e naves do mundo virtual. Nas bilheterias até agora arrecadou pouco mais de US$ 370 milhões, enquanto, estima-se que custou US$ 170 milhões, ou seja, mais que o dobro, mas não o suficiente para alegrar os produtores.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A Vida Continua

O que acontece depois que morremos? Como é o outro lado? Podemos manter contato com o mundo dos vivos? A partir de perguntas como essas, o aclamado diretor Clint Eastwood vagueia desnorteado pelos dois mundos, pelo espiritismo e afins, para entregar um de seus piores filmes na carreira: Além da Vida. Nem a presença de Matt Damon e efeitos especiais de altíssima qualidade (que renderam a única indicação ao Oscar para o filme, mesmo pelas poucas cenas que são utilizados) salvam o filme da tragédia, que conta três histórias diferentes sobre o assunto.

A abertura acontece numa ilha paradisíaca da Indonésia, onde a famosa repórter francesa Marie LeLay e o namorado passam férias. A tsunami chega devastando tudo e Marie quase morre, é levada pelas águas, tem a cabeça atingida e desmaia. Entra no mundo espiritual, onde vê outras pessoas que já se foram. Mas, é resgatada e volta à vida. Devido a sua experiência de quase morte, a repórter francesa se torna obsessiva sobre o assunto, colocando em risco sua credibilidade, carreira e vida pessoal para escrever um livro sobre o tema.

Há também a história do médium americano George Lonegan (Damon, em forte tentativa de dar credibilidade ao papel), que tem o dom - que ele enfrenta como uma maldição - de se conversar com as pessoas que já morreram. Chegou a ter um site e era muito famoso, mas decide ficar recluso e não fazer mais "comunicações". O irmão Billy acha que pode explorar financeiramente as aptidões paranormais de George e fazer fama e fortuna. Enquanto, o atormentado médium prefere se voltar para atividades comuns do dia-a-dia, como aprender a cozinhar, para esquecer do próprio dom e acaba encontrando uma bela moça, mas que graças a sua mediunidade, eles se afastam.

A última parte que compõe o recorte se passa na Inglaterra onde os gêmeos Marcus e Jason, filhos inteligentes de uma mãe drogada que corre o risco de perder a guarda das crianças, os meninos fazem de tudo para ajudar a mãe a esconder os problemas da assistência social. Porém, um acidente tira a vida de Jason e Marcus tem que conviver com a perda do irmão que sempre teve ao lado e o ajudou. O garoto empreende uma jornada para conseguir se comunicar com o irmão, após viver numa família adotiva, pois sua mãe é internada para reabilitação.

Então, Eastwood dá um jeito dos caminhos dos três personagens - Marie, George e Marcus - se encontrarem. Tudo converge para uma fria Londres, numa feira de livros. Marcus é o responsável pelas melhores cenas do filme, há um tom de inocência e fé em sua jornada ao qual o menino coloca todas suas forças e sentimentos para conseguir alcançar os objetivos e sentir novamente a presença do falecido irmão Jason ao seu lado. O problema de Eastwood é que o filme é lento, com uma hora de filme parece que não foi tomado um rumo. Há diferença qualitativa nas histórias, tanto que parecem roteiros e direções diferentes para cada trecho. A falta de unidade destrói o filme. O tema de "vida após a morte" é até bem explorado, mas sem um ponto de apoio para conduzir a película, Eastwood entrega um filme menor, que mais parece uma edição do "Fala que eu te escuto".




domingo, 6 de fevereiro de 2011

Top 10 de 2010

O ano de 2010 passou e alguns filmes marcaram o período, ao menos para mim, como os melhores - ou, pelo menos, como importantes de alguma forma para o cinema. Eis a minha lista dos 10 melhores filmes de 2010:

1- A Rede Social: O filme de David Fincher sobre os bastidores da criação do Facebook, a rede social mais importante e populosa do mundo, desvendou os homens por trás deste fenômeno. Jovens nerds, estudantes de Harvard que apenas queriam pegar as gatas da universidade e chegar os clubes finais. A relação explosiva entre Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), Eduardo Saverin (Andrew Garfield) e Sean Parker (Justin Timberlake). Os julgamentos que pontuam a história são fantásticos e o elenco afiado, dispara diálogos ácidos e rápidos, como a juventude atual está acostumada. Um filme com a cara da geração do século XXI: nerd, ágil, individualista. E por tudo isso, sensacional.


2- Tropa de Elite 2: A continuação do sucesso de 2007 se tornou um fenômeno ainda maior. Na tentativa de driblar a pirataria que se aproveitou do primeiro filme, José Padilha e produtores tomaram providências pro filme não "vazar". A obra é em todos os aspectos superior ao primeiro filme. Com um roteiro melhor estruturado, personagens cada vez mais humanos e com cenas de violência e realidade nua e crua. Temos um retrato fiel da corrupção humana, política e da polícia. Não há distinção entre mocinhos e vilões. Quem sofre as consequências, como sempre, são os inocentes. A realidade, só isso e nada mais. Um espetáculo visual e emocional. O maior público de um filme nacional. O melhor filme brasileiro da história.

3- Toy Story 3: Chegar ao fim de uma trilogia que marcou a história das animações não era uma tarefa fácil. Manter o padrão Pixar de qualidade era outro desafio. Então Toy Story 3 chegou aos cinemas para encerrar as aventuras dos brinquedos, o cowboy Wood, o patrulheiro estelar Buzz Lightyear e companhia. As metáforas utilizadas para falar do crescimento, da entrada no mundo adulto, das separações, da perda da inocência e da amizade como elo fundamental para a formação do homem, são sutilmente colocadas na tela de forma cativante. Impossível não se encantar com a obra.

4- Ilha do Medo: Um thriller psicológico, um filme de presídio, uma loucura dirigida com maestria por Martin Scorsese. A atuação de Leonardo DiCaprio como o investigador que se vê à voltas de um mistério numa ilha-presídio que funciona como centro de reabilitação para internos com problemas mentais é algo sensacional e mostra todo o amadurecimento daquele garoto que fez fama com Titanic. Mas, é nas partes técnicas que o filme mostra todo seu brilhantismo: cenários e figurinos criam uma ambientação claustrofóbica e angustiante, que dão o clima da ação ao lado de uma fotografia e efeitos deslumbrantes e corretos, sem exageros. Marcante.

5- A Origem: Sonhar não custa nada. Mas para Cobb e sua trupe, custa e muito caro. Eles são especialistas em invadir sonhos para roubar informações. Agora, enfrentam uma tarefa considerada impossível: entrar na mente de uma pessoa para implantar um dado. Nessa engenhosa trama, com sonhos dentro de sonhos, lutas sem gravidade, cidades se dobrando e outras coisas que só acontecem em sonhos mesmo, Christopher Nolan cria uma rede de intrigas e armadilhas, onde nada é o que realmente parece ser. Apesar do show de efeitos e da história envolvente, temos muitas explicações e alguns personagens rasos que servem apenas como "escada" para o ato final.

6- Como Treinar o Seu Dragão: Ser um jovem viking não é fácil, ainda mais se você for magrelo, desajeitado e conseguir detonar tudo aquilo que faz. Soluço é assim e, exatamente por isso não tem a confiança de ninguém, ainda mais de seu pai. A comunidade onde mora é alvo do ataque de dragões. Até que em uma de suas desastradas engenhocas para pegar dragões, Soluço acaba fazendo amizade com Banguela e põe em xeque os costumes e tradições do seu povo. Uma história agradável e uma aventura divertida. Os efeitos em 3D são muito bem realizados, principalmente, nas cenas de voo dos dragões e na batalha final. Um dos melhores filmes da Dreamworks.

7- Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1: Uma das sagas mais importantes da história do cinema recente chega perto do fim. A decisão de dividir o último capítulo em duas partes se mostrou acertada. David Yates teve tempo para trabalhar melhor sequências importantes para a trama final da saga do menino-bruxo Harry Potter e seus amigos Rony e Hermione. A direção de arte fez um trabalho genial entregando outros cenários, além de Hogwarts como a mansão dos Malfoy e a casa de Luna. A fotografia belíssima aproveita bem as paisagens naturais como a floresta onde Harry e Hermione fogem e a praia onde um certo personagem morre. Agora é aguarda o grand finale em julho de 2011.

8- Scott Pilgrim contra o Mundo: Scott Pilgrim é um cara normal, tem uma banda de rock, uma "namoradinha" pirralha exagerada fã da banda. Até que um dia ele conhece a bela e descolada Ramona. Eles se apaixonam, mas para manter a relação com a garota dos seus sonhos, Scott tem que enfrentar os sete ex-namorados da garota que formaram uma liga do mal. A história baseada numa HQ é divertida e flerta com rock e videogame. Michael Cera é perfeito na pele do abobalhado protagonista. As lutas com efeitos que transformam a vida real num grande jogo são nostalgia pura, parece os consoles das décadas de 1980 e 1990. Basta entrar na onda e curtir um dos filmes mais animados dos últimos anos. Muito game e rock'n roll.

9- Enrolados: A Disney voltou às princesas clássicas. Entretanto, adaptar Rapunzel em 3D, com doses cavalares de comédia e aventura foi uma decisão para lá de ousada - e acertada. Na mescla, do tradicional filme musical (a cena da música "I see the light" é magnífica) com o 3D, incluindo um gigantesco cabelo loiro que parecia real, a velha fábrica de clássicos infantis sobre princesas sonhadoras e príncipes encantados encontra o tom para o século XXI (a mãozinha da Pixar está lá, com a produção executiva de John Lasseter) e entrega um filme que encanta crianças, jovens e adultos sem medo de cair ser piegas ou com uma história infantilizada demais. Há tempos a Disney não entregava uma animação própria tão boa e cativante.

10- Os Mercenários: As listas sempre são levadas pelo gosto pessoal. E o filme de Sylvester Stallone, apesar do roteiro estapafúrdio foi uma das obras de ação mais interessantes dos últimos, sei lá, 20 anos. Com cara, jeito e alma de filme dos anos 80, mas se aproveitando das novas tecnologias e da presença do atual astro de ação Jason Statham, Sly fez uma homenagem ao gênero que ele reinou e ainda trouxe para o público do século XXI grandes nomes do gênero que se encontravam esquecidos e capengando na carreira com filmes direto para DVD. E ainda um encontro de monstros: Stallone, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger numa pequena cena, que é uma brincadeira só. Enfim, não é um filme premiado, nem tem a intenção disso, mas é um grande retorno de velhos conhecidos e vale a lembrança. E aproveitando a gravação no Brasil, temos a presença sensual de Gisele Itié, na pele da mocinha rebelde.