domingo, 20 de novembro de 2011

A Segunda Vez

Agora, um jogo rápido sobre três continuações que deram as caras esse ano na telona no meio do ano. Um tira-teima sobre a segunda vez de filmes de sucesso nos cinemas.

Se Beber, Não Case 2: A gangue de amigos atrapalhados estão de volta. O cenário é a Tailândia e a história é uma cópia deslavada do primeiro filme. Tão absurdo e chato, que os momentos mais hilários ocorrem somente com as fotos da desventura nos créditos finais. Ainda assim, é uma das maiores bilheterias do ano e na história das comédias adultas só perde para o primeiro filme da série. Uma fortuna embolsada pela Warner para fazer mais uma viagem exótica numa despedida de solteiro da trupe encabeçada pelo insuportável Alan (Zach Galifianakis mais horrível do que nunca). A amnésia pós-bebedeira e muito besteirol é a medida do filme que perde fôlego e cai na mesmice, sem criatividade e muita escatologia.

Carros 2: A Pixar mantinha um nível em seus filmes que demonstrava toda criatividade e competência do estúdio, mas como ninguém é perfeito, teve sua primeira falha na velocidade de um relâmpago! A continuação de Carros (o original era divertido, mas já não era grande coisa) tem uma trama de espionagem ao redor do mundo, saindo do circuito fechado das corridas americanas tipo Nascar e ganhando o mundo num torneio intercontinental. A relação da dupla Relâmpago McQueen e Mate é explorada ao extremo e a elevação do guincho a personagem principal acaba enfraquecendo a história. Salva-se pelas referências à Fórmula 1 e ao espião James Bond, mas não empolga com as corridas.

Kung Fu Panda 2: Depois de afundar a série Shrek com os episódios 3 e 4, a Dreamworks resolveu apostar em outra continuação de um de seus melhores filmes: Kung Fu Panda. O original recheado de ação e aventura para contar a história do atrapalhado panda Po, que sonhava em ser lutador de kung fu e se torna o Dragão Guerreiro, agora dá espaço para uma trama envolvendo família, origens e uma profecia. O lendário pavão Shen, um filho de nobres que foi banido por querer a guerra, volta a agir com canhões e um exército de lobos para dominar a China e acabar com o kung fu. Assim, Po e os Cinco Furiosos (Tigresa, Macaco, Louva-Deus, Garça e Víbora) terão trabalho para derrotar o inimigo e por isso contarão com a ajuda dos mestres Crocodilo, Boi Toró e Rino Trovão. Enfim, Kung Fu Panda 2 amplia e melhora a história do primeiro com mais ação e emoção, alternando momentos de luta com sentimentalismo, como na história do pai ganso de Po. Além disso, o visual está caprichado, a trilha dita o ritmo com perfeição e as piadas são hilárias. Um filme pra toda família e com muita qualidade.



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sob a Lona

Ventilador. No interior de Minas Gerais, a trupe do Circo Esperança viaja, cidade por cidade, para levar seu espetáculo. Em meio a poeira, calor e privações, esses artistas enfrentam cada obstáculo com o intuito de levar o sorriso e alegria ao rosto de cada morador destes lugares distantes. Valdemar/Palhaço Puro Sangue (Paulo José, vencendo o Parkinson e entregando uma atuação arrebatadora) e Benjamin/Palhaço Pangaré (Selton Mello, mostrando desenvoltura à frente e atrás das câmeras) são pai e filho, respectivamente, e donos do circo. Com a idade avançando, Valdemar passa a Benjamin o trabalho de levar o circo em frente.

Dona Zaira, a velha palhaça não tem mais sutiã para os peitos caídos. Lola, a dançarina rebola com a espada, namora Puro Sangue e embolsa a grana da bilheteria. Os cantores sempre inventam uma desculpa para conseguir um extra. O mágico vive na corda-bamba para cuidar da mulher e da filha, a pequena Guilhermina, que cresce pelo mundo convivendo com os tipos mais excêntricos sem paradeiro e com muito malabarismo para contornar as mais difíceis situações. A cada parada, novos personagens, novas histórias, novos desentendimentos.

Nesse ambiente insólito do picadeiro, Benjamin tenta encontrar um significado para viver. As cobranças dos artistas do Circo Esperança aumentam. Ele tenta fazer um crediário, conseguir um emprego, sair do circo e encontrar uma nova vida, um amor, uma identidade e um ventilador. Afinal, um rapaz já crescido que vivia perambulando pelo mundo, atravessando as serras mineiras, não tinha identidade, CPF, nenhum documento além de uma surrada certidão de nascimento.

Com uma fotografia em tons quentes e envelhecidos para nos situar numa época antiga, onde ventilador era artigo de luxo e o vermelhão da poeira contrasta com o verde das plantações e matas que são cortadas pelas estradas de chão, vamos enveredando por uma história de dor, riso, melancolia e superação. Cada quadro é como se o diretor e ator principal da obra queira fazer uma pintura, um retrato dos sentimentos de cada personagem, que reflete um período e ainda assim são emoções genuínas e atemporais. Há uma inocência marcada pelo tom onírico que a obra se desenvolve. Um ideal de que não importa o que aconteça, somos aquilo que nascemos para ser.

A câmera sempre vai dos opostos: da proximidade intimista com o personagem na tela, um detalhe, um olhar; ou parte do chão até o céu entrecortado pelos morros, num plano amplo, que faz perder a vista no horizonte. Esse cuidado visual acompanhado de atuações honestas embaladas por uma trilha prazerosa e emocional, acaba por entregar o melhor filme nacional de 2011 com sobras e um dos melhores da década com tranquilidade. Selton Mello demonstra maturidade autoral para dirigir uma obra singela que faz rir e chorar nos momentos certos e ao final, as luzes do picadeiro se apagam sob os aplausos entusiasmados do público em pé.




terça-feira, 25 de outubro de 2011

Super Humanos

Toda saga tem um começo. Em 2000, quando a Fox e a Marvel mostraram ao mundo os X-Men: O Filme de Bryan Singer, as adaptações de histórias em quadrinhos ganharam uma nova chance, após os fracasos de Batman & Robin (1997), O Fantasma (1996), entre outros que afundaram o gênero. Com um elenco encabeçado por dois atores consagrados: Patrick Stewart (como Professor Charles Xavier, líder dos X-Men) e IanMcKellen (como Magneto, o grande inimigo dos mutantes do bem), era uma esperança no fim do túnel.

Após o sucesso de X-Men: O Filme, os cinemas viraram um segundo lar dos super-heróis e personagens das HQs. Grandes sucessos de público de crítica (X-Men 2, Homem-Aranha 1 e 2 e Homem-de-Ferro pelos lados da Marvel e Batman Begins e TDK pela DC) e vários fracassos retumbantes (Elektra e Mulher-Gato só pra citar os mais vergonhosos). A saga X-Men teve outros capítulos com: X2 (2003) X-Men: O Confronto Final (2006) X-Men Origins: Wolverine (2009). Sendo que, os dois últimos apesar de um desempenho razoável nas bilheterias foi massacrado pela crítica e também pela opinião do público.

Eis que, numa tentativa de resgatar a série, a Fox produziu em tempo recorde uma prequel da história dos mutantes, contando a origem da escola do jovem Professor Charles Xavier (James McAvoy, de O Procurado) sua amizade e posterior, rivalidade com Erik Lehnsherr (Michael Fassbender, de Bastardos Inglórios). Assim, é X-Men: Primeira Classe. Muitas dúvidas pairavam sobre a produção comandada por Matthew Vaungh, as primeiras imagens e trailers não empolgavam e o futuro dos mutantes se tornava cada vez mais incerto.

Quando junho chegou, o mundo recebeu a nova aventura dos X-Men com um pé atrás e foi surpreendida. Com uma história focando no desenvolvimento dos personagens e as relações entre eles até haver o rompimento enter Charles e Erik, o filme conquistou boas críticas e o desempenho modesto nas bilheterias deve abrir caminho para uma continuação. Com elenco afiado, com destaque também para Jennifer Lawrence na pele azulada de Mística e o vilão Sebastian Shaw, interpretado por Kevin Bacon.

O roteiro segue pelos anseios e medos dos mutantes frente a um mundo preconceituoso. E também, o medo que nós, humanos comuns, temos do novo, do desconhecido. Sob a sombra da Guerra Fria, Erik vai se tornando Magneto, um homem rancoroso que sofreu traumas durante a Segunda Guerra Mundial e não confia mais na humanidade, acreditando que os mutantes são o futuro do mundo com seus poderes e habilidades especiais.

Charles ainda confia numa convivência pacífica entre homems e mutantes, desde cedo sempre soube de suas capacidades. A amizade desde a infância com Raven (a futura Mística) tinha um tom de protecionismo e também, um preconceito velado, devido a aparência da garota que só queria ser normal. A partir daí, as amizades vão criando os elos entre mocinhos e vilões até culminar com uma batalha na praia entre mutantes, americanos, soviéticos e o futuro de cada um é selado.

X-Men: Primeira Classe é um filme sobre sentimentos e o desejo que faz mover a vida de cada um. Aparentemente, novos rumos para uma saga que parecia saturada e fadada a novos fracassos. Mas, que num projeto simples, com efeitos modestos e um trabalho esforçado de toda equipe, rendeu uma obra divertida e interessante. Temos a primeira reunião dos X-Men (com personagens que não aparecem na trilogia original como Alex Summers, irmão de Ciclope) e cenas marcantes como a chuva de corpos na invasão da base promovida por Azazel (sim, o futuro pai de Noturno). E num filme com tantas alternativas, a pergunta central é: até onde vai a nossa humanidade?




domingo, 2 de outubro de 2011

A Vida, A Árvore, O Universo

O que é importante na vida? Sucesso? Família? Ambição? Amor? Terrence Malick vai ao íntimo destas questões com muita competência em A Árvore da Vida. Com uma pitada de surrealismo, doses cavalares de silêncio, momentos de longa contemplação do tempo e da vida, o diretor nos leva a uma viagem ao interior de nossos sonhos, desejos, anseios e questionamentos de forma única e magistral.

As cenas, geralmente, em primeiríssimo plano, como se a própria câmera fosse um personagem, dá um tom intimista e observador. Ações, gestos e olhares que falam mais do que as palavras e, estas são raras. Pouco se fala. Às vezes, palavras soltas, desconexas, fazem alusão à família, a Deus, a criação do Universo e como devemos agir diante do mundo, ressaltando a importância de nossas escolhas.

Acompanhamos a jornada da família O'Brien. O patriarca vivido por Brad Pitt é um homem duro, obstinado, que deixou pra trás o sonho de ser músico para trabalhar numa empresa que poderia ter maiores lucros. Desde cedo, ensina aos filhos a serem fortes. Porém, isso faz com que os três meninos sintam repúdio, rebeldia, questionam a motivação do pai, que ensina uma coisa e faz o contrário.

A mãe (Jessica Chastain, linda) cândida, doce e jovial, mostra uma realidade mais amena, feita a partir das escolhas e da fé. Entretanto, o filho mais velho, Jack (na infância vivido pelo garoto Hunter McCracken, e adulto o oscarizado Sean Penn) vai além, ao questionar a autoridade dos pais, visto que a mãe é submissa e o pai um homem que coloca o sucesso acima de tudo.

O filme vai e volta no tempo, para mostrar o caminho da Natureza e o da Graça. A fé em algo superior que move toda a vida. A natureza implacável, que tudo quer, tudo pode, não importa o que estiver à frente. Basta escolher qual seguir. Com isso, vamos da origem de tudo, do Universo, da vida até os dias atuais e além. Vida e morte se confundem, sonhos e realidade, amor e compaixão, fortuna e infortúnio.

Malick faz uma obra para poucos. O ritmo lento, cadenciado por cenas de simplesmente nenhum diálogo e nenhum ator em cena. Porém, quem acompanha a saga até o fim, vê a construção de personagens comuns, como eu, você ou alguém que conheça. Adultos que depositam nos filhos, os sonhos que tinham na infância. Crianças que não aguentam cobranças e brigas, que querem crescer ao seu modo. Irmãos unidos, apesar das diferenças. Uma fraternidade que amplifica o sentimento de união, como na cena em que Jack pede perdão ao irmão por uma brincadeira.

A Árvore da Vida a cada quadro mostra porque levou a Palma de Ouro em Cannes de melhor filme em 2011. Mesmo com tanta pompa e circunstância, para muitos é um exercício de estilo e soberba. Enquanto, quem consegue adentrar na viagem lisérgica proposta pelo diretor, consegue abstrair sensações e emoções nos pequenos detalhes que são alavancados por uma trilha arrebatadora e atuações cruas, naturais. Um grande fílme, que tem a capacidade de tocar a alma, a fé e a eternidade. Afinal, como diz a Sra. O'Brien: "A menos que você ame, sua vida passará rapidamente".



Tesouras Fabulosas

Era 1990, o esquisitão Tim Burton entrega ao mundo a primeira parceria com o ator Jhonny Depp, uma fábula sobre um jovem, uma criatura incompleta e ingênua, que viveu isolado numa mansão e agora, tem que enfrentar a civilização quando uma vendedora da Avon bate à sua porta. Edward Mãos de Tesoura é um marco na carreira de Burton e Depp, além de trazer no elenco Winona Ryder como a doce Kim e, Dianne Wiest como a vendedora Peg.

Vicent Price (em seu último trabalho no cinema à frente das câmeras) é um inventor solitário que mora numa mansão no topo de uma colina. Uma mancha negra na imagem da bucólica cidade do interior dos EUA que parece viver nos anos 50, apesar de estar no início da década de 1990. Em sua residência constrói máquinas variadas, mas é a criação de um filho o maior desafio. Incompleto, com tesouras no lugar das mãos, o homem fica sozinho com a morte de seu criador. Com essa homenagem ao clássico Frakenstein, Burton dá vida a uma fábula sobre a perca da inocência num mundo frio e cruel.

Peg está em mais um dia de trabalho como revendedora de cosméticos, porta a porta sem sucesso, até que se depara com a mansão abandonada. Ela entra para ver se há alguém e no último andar, em meio a escombros surge um homem, uma criatura com corpo humano e tesouras no lugar das mãos. Por compaixão, ela o leva para casa com intenção de cuidar deste menino, que não sabe nada da vida fora daquela prisão, onde ficou por anos afastado do convívio social após a morte de seu criador.

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Assim, começa a saga de Edward na cidade. Para alguns, um ser demoníaco vindo do inferno para destruir suas vidas. Para outros, uma atração exótica de um circo de horrores. Com muita habilidade e criatividade despertar interesse por sua habilidade em fazer esculturas em plantas e cortes de cabelos. Mas, o inocente jovem se apaixona por Kim e sem discernir o certo do errado, Edward atende os pedidos de Jim (Anthony Michael Hall), namorado de Kim, e se mete em confusões que podem mandá-lo de volta ao confinamento.

A fábula de Burton transita entre o visual gótico de Edward e sua mansão com a "alegria" do american way of life com casas coloridas de Suburbia. Com sutileza fala sobre as aparências e como as pessoas julgam as outras pela imagem. A dificuldade de um estranho em se ajustar a um mundo que não conhece e uma sociedade preconceituosa. Entretanto, é no amor puro que Edward nutre por Kim que o filme tem seu ápice. A cena da escultura de gelo e ela dançando sob a "neve" que cai é a síntese desse conto de fadas.

Destaque para a trilha sonora Danny Elfman que acompanha a aventura de Edward até o ato final na mansão de forma magistral. A maquiagem para dar as cicatrizes a Depp é fantástica, cruel e linda. O trabalho da direção de arte em misturar o gótico e o bucólico para distinguir bem a origem de cada um, além das esculturas em arbustos e gelo, é um dos mais criativos já vistos na grande tela.

Um filme épico, apaixonante e que marca o início de uma longa parceria entre Burton e Depp, que entre altos e baixos, tem neste primeiro filme talvez o melhor encontro. Além de ser o grande responsável pela paixão cinematográfica que tenho, pois foi a parte de Edward Mãos de Tesoura que comecei a me interessar pelo cinema, ainda criança. Afinal, aqui o mundo descobriu de onde vem a neve.







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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Uma Garrafa de Rum

Quando uma franquia de sucesso começa a cair em qualidade, os produtores resolvem fazer mudanças drásticas para tentar manter o prestígio. A série Piratas do Caribe que começou como uma pretensiosa estratégia da Disney de transformar seus brinquedos em filmes apresentou sinais de desgaste no terceiro filme do que deveria ser apenas uma trilogia. Eis que, os chefões da produtora resolveram dar mais uma voltinha pelos sete mares e entregar uma outra aventura, com novos personagens e o retorno de velhos conhecidos em Navegando em Águas Misteriosas.

Johnny Depp novamente encarna Jack Sparrow, os mesmos trejeitos, a mesma correria, a mesma insolência. Capitão Barbossa (Geofrey Rush) agora está do lado da Coroa inglesa para caçar um tesouro misterioso, que os espanhóis também estão procurando. Angelica (Penélope Cruz) surge como a nova heroína, que se passa por Sparrow para conseguir uma tripulação e resolver uma pendência romântica do passado com  Depp. Ainda há o temido Capitão Barba Negra (Iam McShane) que controla o navio e dá vida à embarcação, podendo usá-la para destruir e matar quem estiver no seu caminho.

Para suprir a ausência do par romântico de Kiera Knightley e Orlando Bloom, inventaram um caso entre um clérigo e uma sereia. As sequências com os dois eram de uma melosidade terrível, além de não terem 1% do carisma do casal anterior. As sereias em tela  apenas para preencher espaço numa trama mais enrolada que a do terceiro filme.

O que mais se espera num filme de piratas? Batalhas entre capitães com seus navios em alto-mar. Navegando em Águas Misteriosas tem a maior da ação em terra. A cena do trailer em que decidem empurrar Sparrow num abismo é longa demais para uma solução tão simples. Problemas como esse, tornam a película enfadonha e chata. Barbossa é o personagem mais interessante, ao mostrar a ambiguidade de suas intenções ao se aliar à Coroa britânica. Os espanhóis estão lá apenas para criar uma rivalidade com os ingleses, que não funciona. Não acrescentam em nada, poderia passar sem os hispânicos facilmente. Ao final, todos chegam à Fonte de Juventude com muita rapidez, sem nenhum percalço mais emocionante no caminho.

Os efeitos continuam bem realizados, mas não se sustentam num 3D fuleiro, que em muitas vezes tiram-se os óculos e percebe que apenas a legendada está com o efeito. O figurino pomposo da realeza é de encher os olhos, enquanto os piratas desfilam com roupas características e que definem vilões e mocinhos.

Novamente, Piratas do Caribe fez fortuna nas bilheterias. Mas, deixa ao final a sensação de comida requentada. Depp parece estar no automático, tudo é muito mecânico em seus atos. Rob Marshall (Chicago, Memórias de Uma Gueixa, Nine) decepciona ao tentar fazer um filme de ação sem ação. Penélope Cruz tenta dar alguma dignidade a sua Angelica, mas naufraga com toda a tripulação em águas misteriosas de uma aventura do outro lado do Atlântico, bem longe do Caribe. Só uma garrafa de rum e muita disposição para acompanhar essa aventura.



sábado, 30 de julho de 2011

As Relíquias de Hogwarts


Era 2001, quando a Warner trouxe aos cinemas o primeiro capítulo de uma saga que prometia ser uma das mais rentáveis da história, o mundo se viu encantado pela história de um jovem bruxo que deveria enfrentar um grande vilão. O menino que sobreviveu, cresceu e agora acompanhamos o fim de sua jornada, no oitavo filme, dez anos após a estreia do primeiro e alguns bilhões de dólares nos cofres de Gringotes.

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2, fecha com dignidade a luta entre Potter e Voldemort para salvar o mundo bruxo e dos trouxas da ameaça do Lorde das Trevas. Se na Parte 1 sobrou desenvolvimento, solenidade e contemplação. A Parte 2 cai na ação e abre espaço para uma batalha entre Comensais da Morte, professores e alunos de Hogwarts em toda extensão da escola. O filme começa de onde o primeiro parou: Voldemort pegando a Varinha das Varinhas do túmulo de Dumbledore.

É um filme sobre amizade, fidelidade, companheirismo e devoção. Voldemort testa a lealdade dos Comensais da Morte para conseguir destruir todos aqueles que se colocarem em seu caminho. Harry retorna a Hogwarts para lutar ao lado daqueles que nunca deixaram de acreditar nele. E o primeiro confronto dele é com o diretor Severo Snape, aquele que matou Dumbledore.

Aliás, o filme é de Snape (Alan Rickman, soberbo!), que é atacado por Nagini, a cobra de Voldemort que precisa matá-lo para ter o poder sobre a Varinha das Varinhas. Quase morto, Harry tenta ajudá-lo, mas com lágrimas escorrendo pelo rosto, Snape apenas pede para que o jovem bruxo colete algumas gotas e as coloque na Penseira. Com isso temos a melhor cena do filme: o flashback da vida de Severo até o momento da morte de Dumbledore. E claro, a última frase em vida, direcionada ao menino Potter. Emocionante!

A professora Minerva McGonnagal (Maggie Smith, fantástica mesmo com pouco tempo na tela) passa a comandar a defesa de Hogwarts durante uma batalha contra Voldemort, Comensais da Morte e gigantes! Tudo é grandioso e bem realizado. Os efeitos estão com um acabamento sem igual na série. A fotografia novamente confere uma aura de tensão. E as atuações estão muito boas. O trio principal consegue um nível de interpretação que só havia visto em O Prisioneiro de Azkaban. E a cena dos três em Gringotes é divertida e emocionante.

Harry continua a caça às horcruxes ao lado de Ron e Hermione para destruir Voldemort. Mas, o fardo está pesando. A cena de Ron e Hermione na Câmara Secreta é uma das mais apaixonantes da saga. O filme evoca a maturidade que essas crianças atingiram após 7 anos em Hogwarts. E a cena de Harry na floresta com Voldemort e os Comensais demonstra toda determinação que alguém pode ter, não importa a idade que tenha, para fazer o que deve ser feito. E Neville, que sempre sofreu como o atrapalhado da turma, tem seu momento de triunfo na batalha.

As Relíquias da Morte - Parte 2 tem alterações em relação ao livro. Mas, algumas mortes de personagens que nos cativaram durante 10 anos estão lá, as lutas, as vitórias. E as lágrimas conseguem rolar na face dos fãs e não-fãs que se encantaram por esse final tão épico.


segunda-feira, 11 de julho de 2011

O Deus do Trovão

Uma peça do quebra-cabeça. Assim, que podemos encarar Thor, filme sobre o herói asgardiano. Mais um passo nos planos da Marvel de trazer às telas o projeto Vingadores. O diretor Kenneth Branagh tem em mãos uma boa história e um elenco talentoso aliados a um desenvolvimento automático e efeitos canastrões, que hora funcionam a contento e em outros beiram a vergonha alheia. Com a ação ocorrendo em três planetas diferentes, há momentos que as viagens se tornam enfadonhas.

Na Terra, os cientistas Jane Foster (Natalie Portman linda como sempre e bem à vontade no papel) e Erik Selvig estudam fenômenos estranhos que estão acontecendo na atmosfera. Até que encontram um cara perdido no deserto que parece ser de outro mundo e é: Thor (Chris Hemsworth se aproveitando mais dos músculos do que talento para atuação). O Deus do Trovão está desorientado e com a ajuda de Jane e seus amigos, tentam encontrar o martelo de Odin (Anthony Hopkins, ganhando uma grana extra), que está encravado numa rocha e os agentes da SHIELD estão tentando descobrir o que é e protegendo o local.

Em Asgard, Loki (Tom Hiddleston, muito à vontade) descobre um segredo de família, ele tenta destruir a terra do inimigo gelado Laufey, rei de Jotunheim e, ascender ao trono de Odin que está em "coma". Os amigos de Thor tentam resgatá-lo da Terra e usam o portal dos mundos para viajar ao nosso planeta. Mas, Loki manda um sentinela para impedi-los. Enquanto isso, a SHIELD rouba os dados de Jane sobre os fenômenos e Thor vira alvo de pesquisa científicas. Até que consegue ser salvo e volta a Asgard para acertar contas com o irmão.

Um filme movimentado, com pitadas de ação, comédia e romance com pano de fundo mitológico. A Marvel entrega mais uma peça para a saga dos Vingadores, por isso ao final da sessão (até mesmo após a cena pós-crédito que dá detalhes do filme com os heróis que estreia em 2012) temos a sensação de algo inacabado e feito às pressas, apresentando altos e baixos bem delineados. Pelo menos, entregou a mocinha mais bela e com melhor atuação até agora dos filmes que servem de alicerce para o filme do ano que vem: Natalie Portman deixa no chinelo Liv Tyler (O Incrível Hulk) e Gwyneth Paltrow (Homem de Ferro 1 e 2). Uma diversão mediana, que se não fosse pela expectativa de algo maior à frente, seria facilmente esquecido.



domingo, 12 de junho de 2011

Cidade Maravilhosa


O diretor brasileiro Carlos Saldanha já foi da pré-história (na série A Era do Gelo) ao futuro (no divertido Robôs), mas agora ele volta para a terra natal e faz uma homenagem à Cidade Maravilhosa em Rio. O filme em inglês tem no elenco principal os indicados ao Oscar, Anne Hathaway e Jesse Eisenberg, o oscarizado Jamie Foxx, o brasileiro Rodrigo Santoro e o cantor Will.I.Am, do grupo Black Eyed Pies. Com esse time de estrelas, ele conta a história de Blu, uma arara azul traficada da floresta da Tijuca para os EUA, onde acaba sendo criada por Linda, uma simpática adoradora de aves. No Brasil, o ornitólogo Tulio (Santoro nas versões em inglês e português) cuida de Jade, uma fêmea da espécie de Blu, da qual eles são os últimos representantes. Então, ele viaja aos EUA para fazer Linda trazer Blu ao Brasil para que ele e Jade possam perpetuar a espécie.


O filme abre com Blu ainda bebê, aprendendo a voar e é capturado por traficantes de animais selvagens. Nos EUA, ele cai do caminhão e é encontrado por uma garota, Linda, que cuida dele e crescem juntos como amigos verdadeiros. Mas, Blu não aprende a voar. Linda fica em dúvidas, mas aceita a proposta de Tulio e vai ao Brasil. Entretanto, o pássaro tem um problema: Jade é forte, inteligente, voa muito bem e não liga para o que os outros pensam. Ela quer voltar para a vida na floresta e tenta escapar a todo custo. No meio da madrugada, eles são sequestrados por traficantes de animais. Aí começa a aventura do casal de araras azuis pelo Rio de Janeiro. O grupo de traficantes tem uma cacatua Nigel, que aterroriza as pequenas aves, responsável pelo melhor momento musical do filme. Depois segue um jogo de gato e rato pelo Rio, mostrando as praias, o carnaval e o Maracanã. Tudo bem clichê. Enquanto, Blu e Jade vão se aventurando pelo Rio de Janeiro, andando de bonde, voando, fugindo e se apaixonando. Túlio e Linda enquanto procuram as ararinhas, também vão se conhecendo melhor e rola um clima, paralelamente aos azuizinhos.


Aliás, o que incomoda é parecer um filme feito por americano, não por um diretor brasileiro. As situações são surreais. Afinal, Brasil contra Argentina no Maracanã durante o carnaval? Entrar com uma kombi com uma galinha de papel no meio da Sapucaí durante um desfile? Encontrar fantasias perdidas na concentração do sambódromo? Macacos assaltantes? Ok, é uma animação, mas podia ser um pouco mais fiel. É um filme para estrangeiro ver com aquele pensamento de um Brasil com muita criminalidade e festa todo dia. Isso não detona todo o filme, mas as músicas com seus "láialáláialá" são irritantes. O filme diverte e é um excelente cartão-postal das belas paisagens cariocas, porém termina com a sensação que poderia ter sido bem melhor.


sexta-feira, 25 de março de 2011

Os ETs Estão Chegando Outra Vez

As grandes batalhas entre humanos e extraterrestres sempre ocorrem nos Estados Unidos. Após vencerem a Segunda Guerra Mundial, eles acreditam que são os únicos com capacidade para eliminar qualquer inimigo, seja ele soviético, comunista, islâmico, terrorista de qualquer espécie, robôs ou aliens vindos dos confins do universos para aniquilar os terráqueos. Com essa premissa, já conhecida e batida, o novo Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles aproveita o pequeno orçamento (míseros US$ 70 milhões) para cair direto na ação e não explicar muita coisa, não aprofundar nos personagens e ainda assim, ser longo o suficiente para causar desconforto nos espectadores.

Sinopse rápida: ETs atacam a Terra para colonizar o planeta em busca, supostamente, de água. As grandes cidades do mundo sucumbiram e a última resistência humana é em Los Angeles. Um militar que fracassou no último trabalho é convocado para auxiliar um jovem tenente na luta contra os invasores do espaço. O sargento Michael Nantz tenta passar por cima da derrota anterior para apoiar da melhor maneira possível os jovens do grupo (Aaron Eckhart vai ao limite para dar credibilidade ao seu papel de velho mau visto pelos novatos). Além de salvar a humanidade, têm que lutar para salvar as próprias contra um inimigo que é uma máquina de caçar e destruir sem piedade.

Em uma Los Angeles totalmente destruída e lutando contra seres mais avançados tecnologicamente, o exército, marinha e aeronáutica dos Estados Unidos unem forças para vencer a batalha. Os efeitos tem um bom acabamento, a fotografia com predomínio de tons cinzas, bege e marrom. Os diálogos são rasos, tanto quanto os personagens e frases de efeito são proferidas a todo instante. Michelle Rodriguez novamente brilha fazendo aquilo que ela sabe de melhor: atirar, matar e chutar a bunda de vilões, no caso, os ETs. Batalha de Los Angeles apresenta um tipo alien diferente: híbrido entre máquina e ser vivo, que se utiliza da água para sobreviver (aquele elemento natural que temos em abundância, tornando os invasores mais fortes).

Muitos tiros, explosões, gritos e motores de naves aliens mostram um capricho na edição e mixagem de som da película. Em alguns momentos beira o ensurdecedor! Mas, não há batalha, correria e tentativa de passar um pingo de emoção que sustente as quase duas horas de projeção. Ao final, temos um filme divertido e arrastado que, se durasse uns 20 minutos a menos seria um dos grandes pipocas do ano. Batalha de Los Angeles promete, entretanto não cumpre e, não chega ao nível de clássicos do gênero como Independence Day, Distrito 9 e Sinais, apesar das boas intenções.




sábado, 19 de março de 2011

Faroeste Animado

Gore Verbinski fez o seu melhor filme. Rango é um faroeste animal, encantador e onírico. A história do jovem camaleão de estimação que se perde na mudança é cheia de surrealismo, homenagens a clássicos do western, uma qualidade visual impecável, uma trilha que emula Ennio Morricone a cada nota e Johnny Depp com a melhor atuação dele nos últimos anos. Aliás, a dupla já havia feito sucesso juntos na trilogia Piratas do Caribe e aqui, Verbinski mostra como emocionar e fazer rir, com um pouco de adrenalina, saudosismo e ousadia para uma animação.

O camaleão de estimação cai do caminhão de mudança e se perde no meio do deserto. Sozinho num lugar inóspito tenta conseguir ajuda e encontra uma cidade do Velho Oeste, habitada por animais encrenqueiros e desolada pela falta d'água. Entra num saloon e conta mil e uma histórias, o estranho encarna o personagem e a fama corre pela cidade, que ele seja um assassino de bandidos, o perigoso Rango. É nomeado xerife da cidade pelo prefeito e tem a companhia da donzela Feijão, que sofre com a seca na fazenda que herdou do pai. Juntos decidem descobrir porque a água sumiu e enfrentam diversos inimigos, como uma família de toupeiras e uma cascavel violenta. E temos as corujas-mariachis que narram e cantam o filme todo e são um show à parte.

Verbinski brinca de citar e homenagear clássicos do faroeste. Ainda assim, encontra espaço para momentos psicodélicos como as cenas do sonho de Rango e quando ele encontra o "Espírito do Oeste" no meio do deserto. Com uma história nada infantil, tem mocinhos, mocinhas, vilões e passa cenas com certo apelo de violência, afinal, nada é fácil na vida no velho oeste. E ainda, tem tempo para tocar em assuntos de responsabilidade social e política: o consumo racional da água e a disputa de poder a partir do domínio deste recurso natural. Rango é a cara de Johnny Depp, um camaleão que inventa personagens e se camufla em cada um para fazer sucesso por onde passa.

Uma grande animação, com cenas belíssimas (incluindo a cópia de uma cena de Depp em Piratas do Caribe ou a perseguição no meio do deserto), uma trilha que leva o espectador no ritmo do filme inspirada em Ennio Morricone, um roteiro divertido e bem elaborado. Caso as animações e os westerns de 2011 mantiverem o nível de Rango, será um ano excepcional, afinal o filme cumpre muito bem o papel nos dois gêneros. 




quinta-feira, 10 de março de 2011

O Rei Venceu

Assim como no Oscar 2011, o vencedor do Carnaval 2011 no Rio de Janeiro foi o rei. Roberto Carlos, cantor e compositor brasileiro mais reconhecido no mundo foi tema da Beija-Flor de Nilópolis e levou a escola azul e branca ao 12º título. Mas, a vitória é da comunidade nilopolitana, que levou com samba no pé e na ponta da língua sem perder a força em 1h17min de desfile pela Sapucaí. Em segundo lugar ficou a Unidos da Tijuca e em terceiro a Estação Primeira de Mangueira. Com uma significativa vantagem de 1,4 pontos, muita gente criticou o resultado. Eram cinco jurados para cada quesito e, a menor e a maior nota eram descartadas, para haver uma regularidade entre as notas.

O primeiro quesito apurado foi a Harmonia, que leva em consideração elementos como o entrosamento entre canto e ritmo de componentes e intérprete, além do canto do samba-enredo pela totalidade da escola. Apenas Beija-Flor e Mangueira levaram nota máxima, as duas agremiações apresentaram letras simples, ritmo cadenciado que facilitava o canto de seus componentes e, por serem escolas com uma comunidade forte, o chão da escola se sobrepôs. Salgueiro e Vila Isabel perderam um décimo. Surpresa foi a Porto da Pedra perder 0,8 pontos nesse quesito.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira foi o segundo quesito avaliado. Apenas a Mangueira obteve os 30 pontos. A Beija-Flor perdeu 1 décimo, nota criticada por alguns, mas os jurados foram benevolentes com o fato da pista estar com óleo devido um vazamento no carro da Porto da Pedra. A avaliação aqui remete ao bailado entre o casal, a fantasia em relação ao tema e aos movimentos. O mestre-sala deve cortejar a dama e proteger o pavilhão, enquanto a porta-bandeira deve apresentar e conduzir a bandeira. Deve-se penalizar queda e/ou perda, mesmo que acidental, de parte da indumentária, como chapéu, sapato, esplendor.

No quesito Conjunto são avaliados a uniformidade da apresentação da escola em todas as suas formas de expressão (musical, dramática e visual) e a integração da escola, o "todo" do desfile. Beija-Flor que se apresentou compacta, leve e animada não perdeu pontos. A Mocidade Independente de Padre Miguel obteve a segunda melhor nota do quesito com 29,8. Talvez o excesso de alas coreografadas tenha prejudicado a Tijuca, que vem teatralizando o seu carnaval, deixando o samba no pé de lado.

A Evolução é a progressão da dança de acordo com ritmo do samba e cadência da Bateria. A coesão do desfile está em jogo: correria e retrocessos, embolação de alas e buracos na avenida são penalizados. A espontaneidade, criatividade, empolgação e vibração dos componentes são avaliados. Com os descartes, a Beija-Flor levou nota máxima. Vila Isabel, Mangueira e Mocidade saíram com 29,9. A correria de algumas escolas levaram a queda nas notas. Salgueiro mesmo com o atraso de 10 minutos perdeu apenas 0,8 décimos.

A Comissão de Frente tem como função saudar o público e apresentar a escola. Tijuca, Salgueiro e Beija-Flor com notas máximas. A Mangueira, vencedora do Estandarte de Ouro nesta categoria perdeu um décimo, assim como a Imperatriz Leopoldinense. A escola nilopolitana inovou ao unir Comissão de Frente e Mestre-Sala e Porta-Bandeira, num gesto de apresentar não somente a escola, mas também o pavilhão, seu símbolo maior.

As Fantasias de comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira e dos integrantes dos carros alegóricos não são levadas em consideração. As demais fantasias são julgadas aqui, respeitando a concepção e adequação ao Enredo, a criatividade mantendo o significado dentro do tema, o acabamento, a uniformidade dos detalhes. A Beija-Flor deixou o luxo e grandiosidade de fora e trouxe fantasias menores e mais leves, para que seus componentes pudessem sambar mais à vontade, o que influenciaria em outros quesitos como conjunto e evolução. Assim, a escola de Nilópolis, bem como a Tijuca e o Salgueiro levaram 10. A Mangueira com 29,6 foi uma grande surpresa, pois a escola desfilou elegantemente para contar a história de Nelson Cavaquinho.

Alegorias e Adereços foi crucial na apuração, onde a Mangueira perdeu 1,6 pontos, levando a menor nota do quesito. As alegorias são os elementos cenográficos sobre rodas (carros e tripés) e Adereços são os itens que não estão sobre rodas. Beija-Flor e Tijuca garantiram a nota máxima. A azul e branco de Nilópolis fez carros grandes, mas leves que deslizaram com exuberância pela Sapucaí. A azul e amarelo do Borel trouxe carros gigantescos e pesados, o abre-alas deu problema para sair da avenida e precisou ser desmontado no início da dispersão. O Salgueiro que apresentou problemas em três carros teve apenas 0,5 ponto de punição, enquanto Mocidade, Imperatriz, Porto da Pedra e Mangueira tiveram perdas severas.

O Enredo é a criação e apresentação artística do tema. Julga-se coesão e coerência do tema, a apresentação sequencial (o roteiro fornecido no Livro Abre-Alas) e a capacidade de compreensão do enredo a partir da associação entre argumento e desenvolvimento na avenida. As homenagens bem elaboradas e contadas por Mangueira e Beija-Flor conquistaram 30 pontos. A confusão estabelecida pelos delírios de Paulo Barros e seu "Esta noite levarei sua alma" que misturou diversos tipos de filmes, não somente terror e suspense como ficava aparente pela sinopse, fez a Tijuca perder significativos 4 décimos.

A Bateria, o coração da escola, onde o ritmo de cada sambista é moldado pela regência dos seus mestres. Deve-se considerar a manutenção regular e sustentação da cadência da Bateria em consonância com o Samba-Enredo, a perfeita harmonia entre os sons de todos os instrumentos e a criatividade e versatilidade. Os jurados não gostaram da "paradinha" de quase meio minuto da Mangueira e levou um 9,0 que foi descartado e escola verde e rosa perdeu 2 décimos. Novamente, apenas Tijuca e Beija-Flor garantiram 30 pontos. A surpresa foi a Mocidade perdendo 0,8.

O último quesito apurado na Apoteose foi Samba-Enredo. O jurado avalia letra e melodia, respeitando a licença poética. Metade da nota vai para Letra, sendo ela descritiva ou interpretativa, quando ela conta o Enredo sem se ater em detalhes. A avaliação de Letra vai para adequação ao enredo, riqueza poética, beleza e bom gosto e sua adaptação a melodia. A outra metade vai para Melodia, considerando as características rítmicas do samba, a riqueza melódica e o bom gosto de seus desenhos musicais e a capacidade de sua harmonia musical facilitar o canto e a dança dos componentes. A Mangueira foi a única nota máxima, os sambistas da verde e rosa e a torcida empurraram com garra e amor, o samba em homenagem ao "Filho Fiel". Beija-Flor e Salgueiro perderam apenas um décimo, apesar do chão das duas escolas entrarem forte na avenida, conquistando a Sapucaí.

Ilha, Grande Rio e Portela não foram julgadas devido o incêndio na Cidade do Samba que destruiu seus barracos, mas a Portela foi punida em R$ 100 mil, por ter estourado o tempo do desfile. No geral, a volta do Salgueiro para o desfile das campeãs foi inesperado, pois teve problemas com 3 carros, terminou o desfile com 10 minutos de atraso e não perdeu muitos pontos em alegorias e adereços, nem em conjunto e até a nota de evolução não foi tão baixa. Tijuca com o "teatro sambado" foi vice, não sustentando a coroa de 2010, mesmo com a comissão de frente perdendo a cabeça. A Mangueira com um belo desfile, mas com problemas na organização conseguiu um honroso 3º lugar. A Vila Isabel com Rosa Magalhães fez um desfile bonito, mas o tema "cabelo" atrapalhou e terminou em 4º. Fechando o desfile das campeãs, a Imperatriz com a história da medicina. A Beija-Flor que mudou o estilo, fazendo jus ao título do samba "A Simplicidade de um Rei", veio leve, divertida e com uma comunidade comprometida fazendo empolgar os jurados e a presença de Roberto Carlos emocionando o público. Um título justo, para um ano onde nenhuma escola mostrou todo seu potencial e problemas como incêndio, chuva e óleo marcaram o carnaval carioca.




segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Oscar 2011

Uma noite de gala, revivendo momentos marcantes da história. O Oscar 2011 estava com cara que ia se retratar de erros históricos e entrar com pé direito e de cabeça na nova década do século XXI. Entretanto, ao anunciar o melhor filme, Steven Spielberg lembrou grandes filmes vencedores e filmes ainda maiores que foram derrotados que, nesta noite vencedor e perdedores estariam bem acompanhados. Ao lembrar de um certo derrotado, já sentíamos que O Discurso do Rei seria o ganhador, pois A Rede Social que poderia tirar o prêmio, consagrou-se como o Cidadão Kane do nosso tempo.

A Disney fez a festa levando 4 prêmios, dois por Toy Story 3 - melhor animação e melhor canção com "We Belong Together" e, dois por Alice no País das Maravilhas - melhor figurino e melhor direção de arte. A Pixar mantém o reinado nos últimos 4 anos. Com A Origem levando 4 estatuetas (Efeitos Visuais, Fotografia, Mixagem de Som e Edição de Som), sendo o maior vencedor em quantidade da noite ao lado de O Discurso do Rei, outro filme da Warner manteve o tabu e saiu de mãos vazias: Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1, a saga bilionária do menino bruxo que concorria em Direção de Arte e Efeitos Visuais.

O Vencedor brigou e venceu nas categorias de ator e atriz coadjuvantes: Christian Bale e Melissa Leo, ela que recebeu a estatueta de Kirk Douglas, viu o prêmio ser incerto após problemas de autopromoção e campanha a favor da nova Hailee Steinfeld, de Bravura Indômita. Aliás, a refilmagem do western pelos irmãos Coen entrou na briga com 10 indicações e não levou nada, uma decepção, visto que merecia levar em Fotografia, que era simplesmente deslumbrante. E Cisne Negro viu sua bailarina Natalie Portman brilhar e emocionar o público com o Oscar de melhor atriz.

A Dinamarca levou melhor filme estrangeiro com o drama Em Um Mundo Melhor. Enquanto, o Brasil que era cenário do concorrente a documentário Lixo Extraordinário, viu o careca dourado para na mão de Trabalho Interno, sobre a crise econômica dos últimos anos. Entre os curtas-metragem os vencedores foram: o documentário Strangers No More, a animação The Lost Thing e o melhor curta-metragem God of Love. E o terrível filme O Lobisomem ganhou como melhor maquiagem, talvez a única coisa que realmente presta na película.

Os apresentadores Anne Hathaway e James Franco se esforçaram, ela se saiu bem melhor que o colega, que também estava indicado ao prêmio de melhor ator por 127 Horas. O palco com um cenário mais clean deixou a festa com mais interação entre cenário e atores. Os números musicais foram bonitos, apesar que no In Memorian poderiam ter colocado outra cantora no lugar de Celine Dion. Mas, foi uma festa democrática e rápida. Até Josh Brolin e Javier Bardem deram selinho no palco.

Na briga principal estavam A Rede Social e O Discurso do Rei. O filme sobre o rei inglês George VI abriu a festa perdendo prêmios, de 12 indicações levou apenas 4, mas quando levou o Oscar de melhor diretor para Tom Hooper, após ter ganho melhor roteiro original, colocava uma mão na categoria principal. E antes disso, garantiu o esperado melhor ator para Colin Firth. A história do Facebook levou um duro golpe com a derrota do diretor David Fincher, mas chegava confiante para o último envelope, afinal, já havia garantido melhor trilha sonora, roteiro adaptado e montagem, os dois últimos considerados importantes para levar ao filme do ano. Entretanto, quando Spielberg anunciou O Discurso do Rei melhor filme de 2010, percebemos que a Academia de Cinema dos Estados Unidos ainda é uma terra de velhotes, que não gostam de ousar e escolheram o politicamente e plasticamente correto filme de Hooper em detrimento ao ousado, criativo e genial A Rede Social, que nada mais é do que um reflexo da atualidade, dos relacionamentos humanos e do poder da internet.



sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Os Indomáveis

Refilmar um clássico é como mexer com um vespeiro, o risco de ser atacado sem piedade é alto. Quando os irmãos Coen anunciaram que rodariam sua versão para Bravura Indômita, sabiam dos problemas que poderiam enfrentar. Ethan e Joel vencedores do Oscar por Onde os Fracos Não Têm Vez, possuem um currículo diversificado, mas conseguir manter a aura e dignidade do material original deste clássico do western era um desafio que eles decidiram encarar, sem medo de ser feliz com coragem e determinação.

Para quem não conhece ou não viu ou viu e não sabe de outros detalhes, o Bravura Indômita original de 1969, dirigido por Henry Hathaway teve duas indicações ao Oscar, vencendo na categoria de melhor ator com John Wayne. Além do astro, outros nomes de peso faziam parte do filme: Robert Duvall, Dennis Hopper, Glen Campbell e a jovem Kim Darby, no papel de Mattie Ross. Wayne também venceu o Globo de Ouro pelo filme.

Voltando a atualidade. Para manter o nível do elenco para a refilmagem, os Coen escalaram um trio de peso para os papéis masculinos principais: Jeff Bridges, Matt Damon e Josh Brolin. Entretanto, apesar da indicação ao Oscar de  melhor ator para Jeff Bridges (vencedor ano passado por Coração Louco), que revive o papel de John Wayne, é a novata Hailee Steinfeld, de apenas 14 anos, quem rouba a cena como Mattie Ross, uma menina que vai em busca do assassino do pai.

A história adaptada do livro de Charles Portis (assim como o filme de 1969) mostra a pequena Mattie como uma garota determinada e corajosa, que entra no mundo dos adultos para negociar a captura do homem que matou seu pai. E ela embarca na viagem ao lado de um velho xerife para procurar o matador, que está com outros bandidos em território indígena. Haille entendeu a situação, deu o recado e em tela não se mostra intimidada ao encarar grandes nomes do cinema atual, garantindo a vaga no Oscar de melhor atriz coadjuvante. E Bridges com sua competência e carisma costumeiro dá vida a Rooster Cogburn, um federal em fim de carreira, maltrapilho e alcoólatra. Entre os papéis secundários, destaque para o texano personagem de Matt  Damon. La Beouf está na cola do bandido e não vai perder a chance de conseguir a recompensa por Tom Chaney (Josh Brolin).

O couro e tons negros tomam conta do figurino do Oeste americano, enquanto a paisagem oscila entre o escuro das noites de inverno iluminados por fogueiras com o marrom e laranja do sol ao meio-dia comendo poeira. Estamos de volta aos tempos do faroeste e, os Coen não deixam que um quadro sequer da película não transmita esse sentimento. Da trilha sonora encantadora, aos cenários perfeitos e excelente utilização de descampados para emboscadas a cavalo, tudo é um convite para entrar na alma do filme e se levar pela motivação principal: capturar o assassino do pai de Mattie.

Enfim, uma obra acima de qualquer suspeita, que não deve em nada ao original e, ainda ajuda a revelar para o século XXI, o fantástico mundo dos westerns. Resultado: mais de US$ 165 milhões por enquanto (o filme custou US$ 38 milhões) somente nos EUA e 10 indicações ao Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor ator para Bridges, melhor atriz coadjuvante para Steinfeld, melhor roteiro adaptado, melhor edição de som, melhor mixagem de som, melhor figurino, melhor direção de arte e melhor fotografia. Um filme sobre como as situações nos fazem crescer e mostrar isso ao outros, encarando o que vier pela frente. Espetacular!