quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Uma Garrafa de Rum

Quando uma franquia de sucesso começa a cair em qualidade, os produtores resolvem fazer mudanças drásticas para tentar manter o prestígio. A série Piratas do Caribe que começou como uma pretensiosa estratégia da Disney de transformar seus brinquedos em filmes apresentou sinais de desgaste no terceiro filme do que deveria ser apenas uma trilogia. Eis que, os chefões da produtora resolveram dar mais uma voltinha pelos sete mares e entregar uma outra aventura, com novos personagens e o retorno de velhos conhecidos em Navegando em Águas Misteriosas.

Johnny Depp novamente encarna Jack Sparrow, os mesmos trejeitos, a mesma correria, a mesma insolência. Capitão Barbossa (Geofrey Rush) agora está do lado da Coroa inglesa para caçar um tesouro misterioso, que os espanhóis também estão procurando. Angelica (Penélope Cruz) surge como a nova heroína, que se passa por Sparrow para conseguir uma tripulação e resolver uma pendência romântica do passado com  Depp. Ainda há o temido Capitão Barba Negra (Iam McShane) que controla o navio e dá vida à embarcação, podendo usá-la para destruir e matar quem estiver no seu caminho.

Para suprir a ausência do par romântico de Kiera Knightley e Orlando Bloom, inventaram um caso entre um clérigo e uma sereia. As sequências com os dois eram de uma melosidade terrível, além de não terem 1% do carisma do casal anterior. As sereias em tela  apenas para preencher espaço numa trama mais enrolada que a do terceiro filme.

O que mais se espera num filme de piratas? Batalhas entre capitães com seus navios em alto-mar. Navegando em Águas Misteriosas tem a maior da ação em terra. A cena do trailer em que decidem empurrar Sparrow num abismo é longa demais para uma solução tão simples. Problemas como esse, tornam a película enfadonha e chata. Barbossa é o personagem mais interessante, ao mostrar a ambiguidade de suas intenções ao se aliar à Coroa britânica. Os espanhóis estão lá apenas para criar uma rivalidade com os ingleses, que não funciona. Não acrescentam em nada, poderia passar sem os hispânicos facilmente. Ao final, todos chegam à Fonte de Juventude com muita rapidez, sem nenhum percalço mais emocionante no caminho.

Os efeitos continuam bem realizados, mas não se sustentam num 3D fuleiro, que em muitas vezes tiram-se os óculos e percebe que apenas a legendada está com o efeito. O figurino pomposo da realeza é de encher os olhos, enquanto os piratas desfilam com roupas características e que definem vilões e mocinhos.

Novamente, Piratas do Caribe fez fortuna nas bilheterias. Mas, deixa ao final a sensação de comida requentada. Depp parece estar no automático, tudo é muito mecânico em seus atos. Rob Marshall (Chicago, Memórias de Uma Gueixa, Nine) decepciona ao tentar fazer um filme de ação sem ação. Penélope Cruz tenta dar alguma dignidade a sua Angelica, mas naufraga com toda a tripulação em águas misteriosas de uma aventura do outro lado do Atlântico, bem longe do Caribe. Só uma garrafa de rum e muita disposição para acompanhar essa aventura.