terça-feira, 25 de outubro de 2011

Super Humanos

Toda saga tem um começo. Em 2000, quando a Fox e a Marvel mostraram ao mundo os X-Men: O Filme de Bryan Singer, as adaptações de histórias em quadrinhos ganharam uma nova chance, após os fracasos de Batman & Robin (1997), O Fantasma (1996), entre outros que afundaram o gênero. Com um elenco encabeçado por dois atores consagrados: Patrick Stewart (como Professor Charles Xavier, líder dos X-Men) e IanMcKellen (como Magneto, o grande inimigo dos mutantes do bem), era uma esperança no fim do túnel.

Após o sucesso de X-Men: O Filme, os cinemas viraram um segundo lar dos super-heróis e personagens das HQs. Grandes sucessos de público de crítica (X-Men 2, Homem-Aranha 1 e 2 e Homem-de-Ferro pelos lados da Marvel e Batman Begins e TDK pela DC) e vários fracassos retumbantes (Elektra e Mulher-Gato só pra citar os mais vergonhosos). A saga X-Men teve outros capítulos com: X2 (2003) X-Men: O Confronto Final (2006) X-Men Origins: Wolverine (2009). Sendo que, os dois últimos apesar de um desempenho razoável nas bilheterias foi massacrado pela crítica e também pela opinião do público.

Eis que, numa tentativa de resgatar a série, a Fox produziu em tempo recorde uma prequel da história dos mutantes, contando a origem da escola do jovem Professor Charles Xavier (James McAvoy, de O Procurado) sua amizade e posterior, rivalidade com Erik Lehnsherr (Michael Fassbender, de Bastardos Inglórios). Assim, é X-Men: Primeira Classe. Muitas dúvidas pairavam sobre a produção comandada por Matthew Vaungh, as primeiras imagens e trailers não empolgavam e o futuro dos mutantes se tornava cada vez mais incerto.

Quando junho chegou, o mundo recebeu a nova aventura dos X-Men com um pé atrás e foi surpreendida. Com uma história focando no desenvolvimento dos personagens e as relações entre eles até haver o rompimento enter Charles e Erik, o filme conquistou boas críticas e o desempenho modesto nas bilheterias deve abrir caminho para uma continuação. Com elenco afiado, com destaque também para Jennifer Lawrence na pele azulada de Mística e o vilão Sebastian Shaw, interpretado por Kevin Bacon.

O roteiro segue pelos anseios e medos dos mutantes frente a um mundo preconceituoso. E também, o medo que nós, humanos comuns, temos do novo, do desconhecido. Sob a sombra da Guerra Fria, Erik vai se tornando Magneto, um homem rancoroso que sofreu traumas durante a Segunda Guerra Mundial e não confia mais na humanidade, acreditando que os mutantes são o futuro do mundo com seus poderes e habilidades especiais.

Charles ainda confia numa convivência pacífica entre homems e mutantes, desde cedo sempre soube de suas capacidades. A amizade desde a infância com Raven (a futura Mística) tinha um tom de protecionismo e também, um preconceito velado, devido a aparência da garota que só queria ser normal. A partir daí, as amizades vão criando os elos entre mocinhos e vilões até culminar com uma batalha na praia entre mutantes, americanos, soviéticos e o futuro de cada um é selado.

X-Men: Primeira Classe é um filme sobre sentimentos e o desejo que faz mover a vida de cada um. Aparentemente, novos rumos para uma saga que parecia saturada e fadada a novos fracassos. Mas, que num projeto simples, com efeitos modestos e um trabalho esforçado de toda equipe, rendeu uma obra divertida e interessante. Temos a primeira reunião dos X-Men (com personagens que não aparecem na trilogia original como Alex Summers, irmão de Ciclope) e cenas marcantes como a chuva de corpos na invasão da base promovida por Azazel (sim, o futuro pai de Noturno). E num filme com tantas alternativas, a pergunta central é: até onde vai a nossa humanidade?




domingo, 2 de outubro de 2011

A Vida, A Árvore, O Universo

O que é importante na vida? Sucesso? Família? Ambição? Amor? Terrence Malick vai ao íntimo destas questões com muita competência em A Árvore da Vida. Com uma pitada de surrealismo, doses cavalares de silêncio, momentos de longa contemplação do tempo e da vida, o diretor nos leva a uma viagem ao interior de nossos sonhos, desejos, anseios e questionamentos de forma única e magistral.

As cenas, geralmente, em primeiríssimo plano, como se a própria câmera fosse um personagem, dá um tom intimista e observador. Ações, gestos e olhares que falam mais do que as palavras e, estas são raras. Pouco se fala. Às vezes, palavras soltas, desconexas, fazem alusão à família, a Deus, a criação do Universo e como devemos agir diante do mundo, ressaltando a importância de nossas escolhas.

Acompanhamos a jornada da família O'Brien. O patriarca vivido por Brad Pitt é um homem duro, obstinado, que deixou pra trás o sonho de ser músico para trabalhar numa empresa que poderia ter maiores lucros. Desde cedo, ensina aos filhos a serem fortes. Porém, isso faz com que os três meninos sintam repúdio, rebeldia, questionam a motivação do pai, que ensina uma coisa e faz o contrário.

A mãe (Jessica Chastain, linda) cândida, doce e jovial, mostra uma realidade mais amena, feita a partir das escolhas e da fé. Entretanto, o filho mais velho, Jack (na infância vivido pelo garoto Hunter McCracken, e adulto o oscarizado Sean Penn) vai além, ao questionar a autoridade dos pais, visto que a mãe é submissa e o pai um homem que coloca o sucesso acima de tudo.

O filme vai e volta no tempo, para mostrar o caminho da Natureza e o da Graça. A fé em algo superior que move toda a vida. A natureza implacável, que tudo quer, tudo pode, não importa o que estiver à frente. Basta escolher qual seguir. Com isso, vamos da origem de tudo, do Universo, da vida até os dias atuais e além. Vida e morte se confundem, sonhos e realidade, amor e compaixão, fortuna e infortúnio.

Malick faz uma obra para poucos. O ritmo lento, cadenciado por cenas de simplesmente nenhum diálogo e nenhum ator em cena. Porém, quem acompanha a saga até o fim, vê a construção de personagens comuns, como eu, você ou alguém que conheça. Adultos que depositam nos filhos, os sonhos que tinham na infância. Crianças que não aguentam cobranças e brigas, que querem crescer ao seu modo. Irmãos unidos, apesar das diferenças. Uma fraternidade que amplifica o sentimento de união, como na cena em que Jack pede perdão ao irmão por uma brincadeira.

A Árvore da Vida a cada quadro mostra porque levou a Palma de Ouro em Cannes de melhor filme em 2011. Mesmo com tanta pompa e circunstância, para muitos é um exercício de estilo e soberba. Enquanto, quem consegue adentrar na viagem lisérgica proposta pelo diretor, consegue abstrair sensações e emoções nos pequenos detalhes que são alavancados por uma trilha arrebatadora e atuações cruas, naturais. Um grande fílme, que tem a capacidade de tocar a alma, a fé e a eternidade. Afinal, como diz a Sra. O'Brien: "A menos que você ame, sua vida passará rapidamente".



Tesouras Fabulosas

Era 1990, o esquisitão Tim Burton entrega ao mundo a primeira parceria com o ator Jhonny Depp, uma fábula sobre um jovem, uma criatura incompleta e ingênua, que viveu isolado numa mansão e agora, tem que enfrentar a civilização quando uma vendedora da Avon bate à sua porta. Edward Mãos de Tesoura é um marco na carreira de Burton e Depp, além de trazer no elenco Winona Ryder como a doce Kim e, Dianne Wiest como a vendedora Peg.

Vicent Price (em seu último trabalho no cinema à frente das câmeras) é um inventor solitário que mora numa mansão no topo de uma colina. Uma mancha negra na imagem da bucólica cidade do interior dos EUA que parece viver nos anos 50, apesar de estar no início da década de 1990. Em sua residência constrói máquinas variadas, mas é a criação de um filho o maior desafio. Incompleto, com tesouras no lugar das mãos, o homem fica sozinho com a morte de seu criador. Com essa homenagem ao clássico Frakenstein, Burton dá vida a uma fábula sobre a perca da inocência num mundo frio e cruel.

Peg está em mais um dia de trabalho como revendedora de cosméticos, porta a porta sem sucesso, até que se depara com a mansão abandonada. Ela entra para ver se há alguém e no último andar, em meio a escombros surge um homem, uma criatura com corpo humano e tesouras no lugar das mãos. Por compaixão, ela o leva para casa com intenção de cuidar deste menino, que não sabe nada da vida fora daquela prisão, onde ficou por anos afastado do convívio social após a morte de seu criador.

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Assim, começa a saga de Edward na cidade. Para alguns, um ser demoníaco vindo do inferno para destruir suas vidas. Para outros, uma atração exótica de um circo de horrores. Com muita habilidade e criatividade despertar interesse por sua habilidade em fazer esculturas em plantas e cortes de cabelos. Mas, o inocente jovem se apaixona por Kim e sem discernir o certo do errado, Edward atende os pedidos de Jim (Anthony Michael Hall), namorado de Kim, e se mete em confusões que podem mandá-lo de volta ao confinamento.

A fábula de Burton transita entre o visual gótico de Edward e sua mansão com a "alegria" do american way of life com casas coloridas de Suburbia. Com sutileza fala sobre as aparências e como as pessoas julgam as outras pela imagem. A dificuldade de um estranho em se ajustar a um mundo que não conhece e uma sociedade preconceituosa. Entretanto, é no amor puro que Edward nutre por Kim que o filme tem seu ápice. A cena da escultura de gelo e ela dançando sob a "neve" que cai é a síntese desse conto de fadas.

Destaque para a trilha sonora Danny Elfman que acompanha a aventura de Edward até o ato final na mansão de forma magistral. A maquiagem para dar as cicatrizes a Depp é fantástica, cruel e linda. O trabalho da direção de arte em misturar o gótico e o bucólico para distinguir bem a origem de cada um, além das esculturas em arbustos e gelo, é um dos mais criativos já vistos na grande tela.

Um filme épico, apaixonante e que marca o início de uma longa parceria entre Burton e Depp, que entre altos e baixos, tem neste primeiro filme talvez o melhor encontro. Além de ser o grande responsável pela paixão cinematográfica que tenho, pois foi a parte de Edward Mãos de Tesoura que comecei a me interessar pelo cinema, ainda criança. Afinal, aqui o mundo descobriu de onde vem a neve.







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