quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A Vida Continua

O que acontece depois que morremos? Como é o outro lado? Podemos manter contato com o mundo dos vivos? A partir de perguntas como essas, o aclamado diretor Clint Eastwood vagueia desnorteado pelos dois mundos, pelo espiritismo e afins, para entregar um de seus piores filmes na carreira: Além da Vida. Nem a presença de Matt Damon e efeitos especiais de altíssima qualidade (que renderam a única indicação ao Oscar para o filme, mesmo pelas poucas cenas que são utilizados) salvam o filme da tragédia, que conta três histórias diferentes sobre o assunto.

A abertura acontece numa ilha paradisíaca da Indonésia, onde a famosa repórter francesa Marie LeLay e o namorado passam férias. A tsunami chega devastando tudo e Marie quase morre, é levada pelas águas, tem a cabeça atingida e desmaia. Entra no mundo espiritual, onde vê outras pessoas que já se foram. Mas, é resgatada e volta à vida. Devido a sua experiência de quase morte, a repórter francesa se torna obsessiva sobre o assunto, colocando em risco sua credibilidade, carreira e vida pessoal para escrever um livro sobre o tema.

Há também a história do médium americano George Lonegan (Damon, em forte tentativa de dar credibilidade ao papel), que tem o dom - que ele enfrenta como uma maldição - de se conversar com as pessoas que já morreram. Chegou a ter um site e era muito famoso, mas decide ficar recluso e não fazer mais "comunicações". O irmão Billy acha que pode explorar financeiramente as aptidões paranormais de George e fazer fama e fortuna. Enquanto, o atormentado médium prefere se voltar para atividades comuns do dia-a-dia, como aprender a cozinhar, para esquecer do próprio dom e acaba encontrando uma bela moça, mas que graças a sua mediunidade, eles se afastam.

A última parte que compõe o recorte se passa na Inglaterra onde os gêmeos Marcus e Jason, filhos inteligentes de uma mãe drogada que corre o risco de perder a guarda das crianças, os meninos fazem de tudo para ajudar a mãe a esconder os problemas da assistência social. Porém, um acidente tira a vida de Jason e Marcus tem que conviver com a perda do irmão que sempre teve ao lado e o ajudou. O garoto empreende uma jornada para conseguir se comunicar com o irmão, após viver numa família adotiva, pois sua mãe é internada para reabilitação.

Então, Eastwood dá um jeito dos caminhos dos três personagens - Marie, George e Marcus - se encontrarem. Tudo converge para uma fria Londres, numa feira de livros. Marcus é o responsável pelas melhores cenas do filme, há um tom de inocência e fé em sua jornada ao qual o menino coloca todas suas forças e sentimentos para conseguir alcançar os objetivos e sentir novamente a presença do falecido irmão Jason ao seu lado. O problema de Eastwood é que o filme é lento, com uma hora de filme parece que não foi tomado um rumo. Há diferença qualitativa nas histórias, tanto que parecem roteiros e direções diferentes para cada trecho. A falta de unidade destrói o filme. O tema de "vida após a morte" é até bem explorado, mas sem um ponto de apoio para conduzir a película, Eastwood entrega um filme menor, que mais parece uma edição do "Fala que eu te escuto".




4 comentários:

  1. Como sempre, um ótimo texto do Fernando! Parabens!

    ResponderExcluir
  2. Um trabalho belo que mostra essência intimista humana, é uma pena como a recepção tem sido morna mesmo..aliás, bem fria. Eu penso que o filme tem sido incompreendido, na verdade a narrativa demasiada lenta tem prejudicado, na minha opinião. Pois, Clint não tem pressa de desenvolver seus personagens de maneira direta, os sentires e também a emoção é gradual, surge aos poucos.

    O filme não tem o intuito de mostrar o “além”, na verdade o elemento espiritual vem mais como um fator de convicção que o personagem de Damon e de Cécile De France sentem — eles sabem que existe algo além do plano carnal, sabem que após a morte existe algo que vai além do terrestre. E é interessante como nos identificamos com eles, afinal, apesar de tantas crenças e ideologias, o ser humano ainda envolve-se no próprio mistério de Vida. O que é a existência? Há tantas perguntas sem respostas, né mesmo? E gosto também de como o roteiro lida com o sofrimento, a dor e a emoção da perda de entes queridos. Os personagens enfrentam as perdas, a passagem, a morte…algo tão difícil de lidar.

    É um filme cuidadoso, muito bom mesmo.

    Pena que você não gostou muito.
    Beijo!

    ResponderExcluir
  3. Obrigado, Luigi, Cristiano e Birasblog!!!

    E continuem visitando!!!

    Abraço

    ResponderExcluir