quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Guerra por um Cavalo

Há tempos, Steven Spielberg era um cara que não tinha medo de retratar uma história com sangue e violência, mas não era nada gratuito, fazia parte da construção narrativa e apesar de tudo, havia uma beleza no sangue jorrando na tela. Porém, aquele diretor criativo e ousado sentiu o peso da idade e aos poucos, foi se tornando um velho cagão com síndrome de Peter Pan. Só isso para explicar, a melosidade de suas últimas obras, incluindo o oscarizável Cavalo de Guerra.

Inglaterra, início do século XX. Albert Narracot (Jeremy Irvine, bonitinho mas insosso), um jovem rapaz espreita pela cerca o novo potro dos vizinhos e com o tempo faz amizade com o equino. O embriagado Ted (Peter Mullan, bem à vontade) resolve desafiar Lyons (David Thewlis, conhecido da molecada pelo Lupin de Harry Potter) de quem arrendou as terras onde mora, num leilão de cavalos e compra o potro - por um preço alto, sendo que deve o arrendamento da fazenda. Albie resolve domar o cavalo, carinhosamente chamado de Joey, para arar as difíceis terras de um barranco e assim, produzir nabos para pagar a dívida de seu pai.

Numa cena piegas e clichê, onde todos moradores da região vão assistir o garoto sofrer para puxar o cavalo para arar, eis que um temporal cai e com a terra molhada ele consegue o que parecia impossível. Então, a colheita se perde por outro temporal e Ted tem que vender o cavalo para o exército inglês que está entrando na 1ª Guerra Mundial. A partir daí, com a separação de criador e criatura, já que o rapaz não tem idade de ir para a guerra, o filme é somente sobre o cavalo.

Na linha de batalha, o cavalo Joey perde seu cavaleiro, o capitão Nicholls (Tom Hiddleston, simpático) num campo francês no embate contra nazistas alemães. E assim, começa a desventura de Joey em terras francesas, passando de mão em mão, até que no fim da guerra um fato "inesperado" acontece. Mais açucarado, impossível.

A fotografia de Janusz Kaminski grita a cada momento "quero ser ...E o Vento Levou!", com cenas de contra-luz para representar um saudosismo dos épicos da Era de Ouro de Hollywood. Além de closes, a cada olhar mais emotivo - e isso inclui os olhos do cavalo. O roteiro baseado na obra de Michael Morpurgo torna o filme doce, terno e sem sangue, tudo muito limpo e encantador. Com esses truques de atingir o emocional do espectador, acompanhado de uma trilha pomposa de John Williams (indicada ao Oscar mais pelo nome do autor do que pela qualidade), que tenta transpor pelas notas uma empatia pela aventura dos personagens.

Se Spielberg de hoje fosse o cara que entregou Tubarão e Contatos Imediatos de 3º Grau, a odisseia de Joey e Albie mostraria os terrores da guerra, como ela influencia a vida das pessoas ao redor e sim, teríamos mortes com sangue, o vermelho teria mais destaque em tela e não essa fábula para crianças. Os choros que ouvi na sala de projeção também seriam acompanhados de gritos entusiastas uma batalha brutal como foi a Primeira Guerra Mundial. Ainda assim, o filme tem seis indicações ao Oscar, incluindo melhor filme. É um belo filme, mas que poderia ter sido bem melhor.



2 comentários:

  1. Spielberg ainda é um grande diretor, mas infelizmente nos quando resolve ser politicamente correto, seus filmes perdem um pouco a força.

    Abraço

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  2. Hugo, isso é verdade. Ele fez um filme maravilhoso nesse século XXI, que foi Monique e uma aventura bacana (mas sem a aura da obra original) em Tintin. No mais, ele só entregou bombas.

    Abraço e bom carnaval.

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