quinta-feira, 10 de março de 2011

O Rei Venceu

Assim como no Oscar 2011, o vencedor do Carnaval 2011 no Rio de Janeiro foi o rei. Roberto Carlos, cantor e compositor brasileiro mais reconhecido no mundo foi tema da Beija-Flor de Nilópolis e levou a escola azul e branca ao 12º título. Mas, a vitória é da comunidade nilopolitana, que levou com samba no pé e na ponta da língua sem perder a força em 1h17min de desfile pela Sapucaí. Em segundo lugar ficou a Unidos da Tijuca e em terceiro a Estação Primeira de Mangueira. Com uma significativa vantagem de 1,4 pontos, muita gente criticou o resultado. Eram cinco jurados para cada quesito e, a menor e a maior nota eram descartadas, para haver uma regularidade entre as notas.

O primeiro quesito apurado foi a Harmonia, que leva em consideração elementos como o entrosamento entre canto e ritmo de componentes e intérprete, além do canto do samba-enredo pela totalidade da escola. Apenas Beija-Flor e Mangueira levaram nota máxima, as duas agremiações apresentaram letras simples, ritmo cadenciado que facilitava o canto de seus componentes e, por serem escolas com uma comunidade forte, o chão da escola se sobrepôs. Salgueiro e Vila Isabel perderam um décimo. Surpresa foi a Porto da Pedra perder 0,8 pontos nesse quesito.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira foi o segundo quesito avaliado. Apenas a Mangueira obteve os 30 pontos. A Beija-Flor perdeu 1 décimo, nota criticada por alguns, mas os jurados foram benevolentes com o fato da pista estar com óleo devido um vazamento no carro da Porto da Pedra. A avaliação aqui remete ao bailado entre o casal, a fantasia em relação ao tema e aos movimentos. O mestre-sala deve cortejar a dama e proteger o pavilhão, enquanto a porta-bandeira deve apresentar e conduzir a bandeira. Deve-se penalizar queda e/ou perda, mesmo que acidental, de parte da indumentária, como chapéu, sapato, esplendor.

No quesito Conjunto são avaliados a uniformidade da apresentação da escola em todas as suas formas de expressão (musical, dramática e visual) e a integração da escola, o "todo" do desfile. Beija-Flor que se apresentou compacta, leve e animada não perdeu pontos. A Mocidade Independente de Padre Miguel obteve a segunda melhor nota do quesito com 29,8. Talvez o excesso de alas coreografadas tenha prejudicado a Tijuca, que vem teatralizando o seu carnaval, deixando o samba no pé de lado.

A Evolução é a progressão da dança de acordo com ritmo do samba e cadência da Bateria. A coesão do desfile está em jogo: correria e retrocessos, embolação de alas e buracos na avenida são penalizados. A espontaneidade, criatividade, empolgação e vibração dos componentes são avaliados. Com os descartes, a Beija-Flor levou nota máxima. Vila Isabel, Mangueira e Mocidade saíram com 29,9. A correria de algumas escolas levaram a queda nas notas. Salgueiro mesmo com o atraso de 10 minutos perdeu apenas 0,8 décimos.

A Comissão de Frente tem como função saudar o público e apresentar a escola. Tijuca, Salgueiro e Beija-Flor com notas máximas. A Mangueira, vencedora do Estandarte de Ouro nesta categoria perdeu um décimo, assim como a Imperatriz Leopoldinense. A escola nilopolitana inovou ao unir Comissão de Frente e Mestre-Sala e Porta-Bandeira, num gesto de apresentar não somente a escola, mas também o pavilhão, seu símbolo maior.

As Fantasias de comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira e dos integrantes dos carros alegóricos não são levadas em consideração. As demais fantasias são julgadas aqui, respeitando a concepção e adequação ao Enredo, a criatividade mantendo o significado dentro do tema, o acabamento, a uniformidade dos detalhes. A Beija-Flor deixou o luxo e grandiosidade de fora e trouxe fantasias menores e mais leves, para que seus componentes pudessem sambar mais à vontade, o que influenciaria em outros quesitos como conjunto e evolução. Assim, a escola de Nilópolis, bem como a Tijuca e o Salgueiro levaram 10. A Mangueira com 29,6 foi uma grande surpresa, pois a escola desfilou elegantemente para contar a história de Nelson Cavaquinho.

Alegorias e Adereços foi crucial na apuração, onde a Mangueira perdeu 1,6 pontos, levando a menor nota do quesito. As alegorias são os elementos cenográficos sobre rodas (carros e tripés) e Adereços são os itens que não estão sobre rodas. Beija-Flor e Tijuca garantiram a nota máxima. A azul e branco de Nilópolis fez carros grandes, mas leves que deslizaram com exuberância pela Sapucaí. A azul e amarelo do Borel trouxe carros gigantescos e pesados, o abre-alas deu problema para sair da avenida e precisou ser desmontado no início da dispersão. O Salgueiro que apresentou problemas em três carros teve apenas 0,5 ponto de punição, enquanto Mocidade, Imperatriz, Porto da Pedra e Mangueira tiveram perdas severas.

O Enredo é a criação e apresentação artística do tema. Julga-se coesão e coerência do tema, a apresentação sequencial (o roteiro fornecido no Livro Abre-Alas) e a capacidade de compreensão do enredo a partir da associação entre argumento e desenvolvimento na avenida. As homenagens bem elaboradas e contadas por Mangueira e Beija-Flor conquistaram 30 pontos. A confusão estabelecida pelos delírios de Paulo Barros e seu "Esta noite levarei sua alma" que misturou diversos tipos de filmes, não somente terror e suspense como ficava aparente pela sinopse, fez a Tijuca perder significativos 4 décimos.

A Bateria, o coração da escola, onde o ritmo de cada sambista é moldado pela regência dos seus mestres. Deve-se considerar a manutenção regular e sustentação da cadência da Bateria em consonância com o Samba-Enredo, a perfeita harmonia entre os sons de todos os instrumentos e a criatividade e versatilidade. Os jurados não gostaram da "paradinha" de quase meio minuto da Mangueira e levou um 9,0 que foi descartado e escola verde e rosa perdeu 2 décimos. Novamente, apenas Tijuca e Beija-Flor garantiram 30 pontos. A surpresa foi a Mocidade perdendo 0,8.

O último quesito apurado na Apoteose foi Samba-Enredo. O jurado avalia letra e melodia, respeitando a licença poética. Metade da nota vai para Letra, sendo ela descritiva ou interpretativa, quando ela conta o Enredo sem se ater em detalhes. A avaliação de Letra vai para adequação ao enredo, riqueza poética, beleza e bom gosto e sua adaptação a melodia. A outra metade vai para Melodia, considerando as características rítmicas do samba, a riqueza melódica e o bom gosto de seus desenhos musicais e a capacidade de sua harmonia musical facilitar o canto e a dança dos componentes. A Mangueira foi a única nota máxima, os sambistas da verde e rosa e a torcida empurraram com garra e amor, o samba em homenagem ao "Filho Fiel". Beija-Flor e Salgueiro perderam apenas um décimo, apesar do chão das duas escolas entrarem forte na avenida, conquistando a Sapucaí.

Ilha, Grande Rio e Portela não foram julgadas devido o incêndio na Cidade do Samba que destruiu seus barracos, mas a Portela foi punida em R$ 100 mil, por ter estourado o tempo do desfile. No geral, a volta do Salgueiro para o desfile das campeãs foi inesperado, pois teve problemas com 3 carros, terminou o desfile com 10 minutos de atraso e não perdeu muitos pontos em alegorias e adereços, nem em conjunto e até a nota de evolução não foi tão baixa. Tijuca com o "teatro sambado" foi vice, não sustentando a coroa de 2010, mesmo com a comissão de frente perdendo a cabeça. A Mangueira com um belo desfile, mas com problemas na organização conseguiu um honroso 3º lugar. A Vila Isabel com Rosa Magalhães fez um desfile bonito, mas o tema "cabelo" atrapalhou e terminou em 4º. Fechando o desfile das campeãs, a Imperatriz com a história da medicina. A Beija-Flor que mudou o estilo, fazendo jus ao título do samba "A Simplicidade de um Rei", veio leve, divertida e com uma comunidade comprometida fazendo empolgar os jurados e a presença de Roberto Carlos emocionando o público. Um título justo, para um ano onde nenhuma escola mostrou todo seu potencial e problemas como incêndio, chuva e óleo marcaram o carnaval carioca.




4 comentários:

  1. Beija-Flor minha escola, minha vida meu amor...
    Já chorei, cantei, sambei, pulei... fiz de tudo um pouco! Minha escola campeão, não tem pra ngm! Parabéns minha escola, igual a você nao tem...

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  2. Ótima visão do carnaval carioca e suas escolas. sou de salvador e te parabenizo pelo excelente texto aqui descrito. Simples, direto e de fácil entendimento. parabéns mais uma vez Fernando.

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    1. Obrigado, Marlon. E um ano se passou e hj teremos o resultado de mais um carnaval!!! heheheh abraço.

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