domingo, 2 de outubro de 2011

A Vida, A Árvore, O Universo

O que é importante na vida? Sucesso? Família? Ambição? Amor? Terrence Malick vai ao íntimo destas questões com muita competência em A Árvore da Vida. Com uma pitada de surrealismo, doses cavalares de silêncio, momentos de longa contemplação do tempo e da vida, o diretor nos leva a uma viagem ao interior de nossos sonhos, desejos, anseios e questionamentos de forma única e magistral.

As cenas, geralmente, em primeiríssimo plano, como se a própria câmera fosse um personagem, dá um tom intimista e observador. Ações, gestos e olhares que falam mais do que as palavras e, estas são raras. Pouco se fala. Às vezes, palavras soltas, desconexas, fazem alusão à família, a Deus, a criação do Universo e como devemos agir diante do mundo, ressaltando a importância de nossas escolhas.

Acompanhamos a jornada da família O'Brien. O patriarca vivido por Brad Pitt é um homem duro, obstinado, que deixou pra trás o sonho de ser músico para trabalhar numa empresa que poderia ter maiores lucros. Desde cedo, ensina aos filhos a serem fortes. Porém, isso faz com que os três meninos sintam repúdio, rebeldia, questionam a motivação do pai, que ensina uma coisa e faz o contrário.

A mãe (Jessica Chastain, linda) cândida, doce e jovial, mostra uma realidade mais amena, feita a partir das escolhas e da fé. Entretanto, o filho mais velho, Jack (na infância vivido pelo garoto Hunter McCracken, e adulto o oscarizado Sean Penn) vai além, ao questionar a autoridade dos pais, visto que a mãe é submissa e o pai um homem que coloca o sucesso acima de tudo.

O filme vai e volta no tempo, para mostrar o caminho da Natureza e o da Graça. A fé em algo superior que move toda a vida. A natureza implacável, que tudo quer, tudo pode, não importa o que estiver à frente. Basta escolher qual seguir. Com isso, vamos da origem de tudo, do Universo, da vida até os dias atuais e além. Vida e morte se confundem, sonhos e realidade, amor e compaixão, fortuna e infortúnio.

Malick faz uma obra para poucos. O ritmo lento, cadenciado por cenas de simplesmente nenhum diálogo e nenhum ator em cena. Porém, quem acompanha a saga até o fim, vê a construção de personagens comuns, como eu, você ou alguém que conheça. Adultos que depositam nos filhos, os sonhos que tinham na infância. Crianças que não aguentam cobranças e brigas, que querem crescer ao seu modo. Irmãos unidos, apesar das diferenças. Uma fraternidade que amplifica o sentimento de união, como na cena em que Jack pede perdão ao irmão por uma brincadeira.

A Árvore da Vida a cada quadro mostra porque levou a Palma de Ouro em Cannes de melhor filme em 2011. Mesmo com tanta pompa e circunstância, para muitos é um exercício de estilo e soberba. Enquanto, quem consegue adentrar na viagem lisérgica proposta pelo diretor, consegue abstrair sensações e emoções nos pequenos detalhes que são alavancados por uma trilha arrebatadora e atuações cruas, naturais. Um grande fílme, que tem a capacidade de tocar a alma, a fé e a eternidade. Afinal, como diz a Sra. O'Brien: "A menos que você ame, sua vida passará rapidamente".



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