domingo, 2 de outubro de 2011

Tesouras Fabulosas

Era 1990, o esquisitão Tim Burton entrega ao mundo a primeira parceria com o ator Jhonny Depp, uma fábula sobre um jovem, uma criatura incompleta e ingênua, que viveu isolado numa mansão e agora, tem que enfrentar a civilização quando uma vendedora da Avon bate à sua porta. Edward Mãos de Tesoura é um marco na carreira de Burton e Depp, além de trazer no elenco Winona Ryder como a doce Kim e, Dianne Wiest como a vendedora Peg.

Vicent Price (em seu último trabalho no cinema à frente das câmeras) é um inventor solitário que mora numa mansão no topo de uma colina. Uma mancha negra na imagem da bucólica cidade do interior dos EUA que parece viver nos anos 50, apesar de estar no início da década de 1990. Em sua residência constrói máquinas variadas, mas é a criação de um filho o maior desafio. Incompleto, com tesouras no lugar das mãos, o homem fica sozinho com a morte de seu criador. Com essa homenagem ao clássico Frakenstein, Burton dá vida a uma fábula sobre a perca da inocência num mundo frio e cruel.

Peg está em mais um dia de trabalho como revendedora de cosméticos, porta a porta sem sucesso, até que se depara com a mansão abandonada. Ela entra para ver se há alguém e no último andar, em meio a escombros surge um homem, uma criatura com corpo humano e tesouras no lugar das mãos. Por compaixão, ela o leva para casa com intenção de cuidar deste menino, que não sabe nada da vida fora daquela prisão, onde ficou por anos afastado do convívio social após a morte de seu criador.

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Assim, começa a saga de Edward na cidade. Para alguns, um ser demoníaco vindo do inferno para destruir suas vidas. Para outros, uma atração exótica de um circo de horrores. Com muita habilidade e criatividade despertar interesse por sua habilidade em fazer esculturas em plantas e cortes de cabelos. Mas, o inocente jovem se apaixona por Kim e sem discernir o certo do errado, Edward atende os pedidos de Jim (Anthony Michael Hall), namorado de Kim, e se mete em confusões que podem mandá-lo de volta ao confinamento.

A fábula de Burton transita entre o visual gótico de Edward e sua mansão com a "alegria" do american way of life com casas coloridas de Suburbia. Com sutileza fala sobre as aparências e como as pessoas julgam as outras pela imagem. A dificuldade de um estranho em se ajustar a um mundo que não conhece e uma sociedade preconceituosa. Entretanto, é no amor puro que Edward nutre por Kim que o filme tem seu ápice. A cena da escultura de gelo e ela dançando sob a "neve" que cai é a síntese desse conto de fadas.

Destaque para a trilha sonora Danny Elfman que acompanha a aventura de Edward até o ato final na mansão de forma magistral. A maquiagem para dar as cicatrizes a Depp é fantástica, cruel e linda. O trabalho da direção de arte em misturar o gótico e o bucólico para distinguir bem a origem de cada um, além das esculturas em arbustos e gelo, é um dos mais criativos já vistos na grande tela.

Um filme épico, apaixonante e que marca o início de uma longa parceria entre Burton e Depp, que entre altos e baixos, tem neste primeiro filme talvez o melhor encontro. Além de ser o grande responsável pela paixão cinematográfica que tenho, pois foi a parte de Edward Mãos de Tesoura que comecei a me interessar pelo cinema, ainda criança. Afinal, aqui o mundo descobriu de onde vem a neve.







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