quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pede Pra Ficar


Há três anos, José Padilha famoso diretor nacional de documentários resolveu adaptar Tropa de Elite para os cinemas. Adotando o mesmo estilo câmera-na-mão-ideia-na-cabeça e tomadas de tirar o fôlego sustentada por um roteiro forte e coeso, Tropa de Elite 2 supera em tudo o original e se firma como o filme nacional mais visto na história. A trama complexa culmina num clímax altamente reconhecível e nos faz entender - em partes - como o Rio de Janeiro chegou ao ponto que acompanhamos semanas atrás com as invasões nos morros.


O BOPE que conhecíamos no primeiro filme se transformou numa máquina de guerra. Entretanto, o herói Capitão Nascimento (Wagner Moura, soberbo) está amarrado pela política local e é nomeado sub-secretário de Segurança. Seu parceiro, Mathias (André Ramiro, fabuloso) é um caveira que vai preso e acaba trabalhando em outro setor após declarações à imprensa, onde encontra uma nova realidade e novos rivais: outros policiais. O filme lançado em outubro, no decorrer da campanha eleitoral, mostrou sem nenhum pudor, a relação tráfico, polícia, milícia e políticos. Uma estrutura que se auto-sustenta na dependência da outra. Como diz o sub-título do filme: O inimigo agora é outro. O sistema vai contra Nascimento, que também enfrenta problemas de relação com o filho adolescente e o novo marido de sua mulher, um almofadinha metido a socialista que se elege deputado. Escutas, traição, mortes, rebeliões.


Nesse jogo de interesses e corrupção, Nascimento percebe que seu trabalho apesar de reduzir a influência do tráfico de drogas em localidades do Rio, a criminalidade não diminui, pois quando um vilão sai, outro entra no lugar para tomar conta das favelas. A formação das milícias sob organização de policiais corruptos e com apoio de políticos é destacada nua e crua. Até o poder da imprensa sobre declarações, escândalos e mortes de jornalistas por queima-de-arquivo. Padilha constrói a cada quadro, um retrato do Rio de Janeiro, que poderia ser de qualquer outra cidade do mundo. Em Tropa de Elite 2 não vale apenas frases de efeito, palavrões e tiros, o que importa é a visão de um cineasta sobre uma realidade que nasce a cada dia diante de nossos olhos e parece que estamos inertes quanto aos seus desdobramentos.


Enfim, Tropa de Elite 2 é o maior e melhor filme nacional desde a Retomada e, possivelmente, o melhor de todos os tempos. Um recorte da realidade atual nas favelas do Rio, da influência de tudo que acontece no país, principalmente, dos calabouços do poder, onde o dinheiro move decisões políticas, policiais e do crime. André Ramiro e Wagner Moura são os protagonistas desse espetáculo, mas os coadjuvantes têm poder em suas cenas e transformam esse filme numa obra-prima tupiniquim. Do Rio à Brasília, do morro ao Congresso, uma demonstração de como a vida é regida pelo poder, pela influência do sistema. Não tem como não se indignar, empolgar e apreciar Tropa 2, é aquele filme que ao final da projeção te derruba, te deixa atônito e mesmo assim você quer ficar e assistir novamente.




Um comentário:

  1. Excelente texto do Grande Fernando. Um dos melhores de todas as suas publicações.

    O texto vai revelando as passagens do Filme Tropa de Elite 2, com maestria e realismo, sendo fidedigno às cenas daquele. Realmente, o brilhante texto apresenta uma análise contundente da intenção do filme, seu desenvolvimento e enredo, com a situação da cidade do Rio de Janeiro, perfazendo uma análise crítica e verdadeira acerca de toda situação.

    Recomendável ler o texto que inspira a ver o filme. Excelente obra.

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