sábado, 30 de julho de 2011

As Relíquias de Hogwarts


Era 2001, quando a Warner trouxe aos cinemas o primeiro capítulo de uma saga que prometia ser uma das mais rentáveis da história, o mundo se viu encantado pela história de um jovem bruxo que deveria enfrentar um grande vilão. O menino que sobreviveu, cresceu e agora acompanhamos o fim de sua jornada, no oitavo filme, dez anos após a estreia do primeiro e alguns bilhões de dólares nos cofres de Gringotes.

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2, fecha com dignidade a luta entre Potter e Voldemort para salvar o mundo bruxo e dos trouxas da ameaça do Lorde das Trevas. Se na Parte 1 sobrou desenvolvimento, solenidade e contemplação. A Parte 2 cai na ação e abre espaço para uma batalha entre Comensais da Morte, professores e alunos de Hogwarts em toda extensão da escola. O filme começa de onde o primeiro parou: Voldemort pegando a Varinha das Varinhas do túmulo de Dumbledore.

É um filme sobre amizade, fidelidade, companheirismo e devoção. Voldemort testa a lealdade dos Comensais da Morte para conseguir destruir todos aqueles que se colocarem em seu caminho. Harry retorna a Hogwarts para lutar ao lado daqueles que nunca deixaram de acreditar nele. E o primeiro confronto dele é com o diretor Severo Snape, aquele que matou Dumbledore.

Aliás, o filme é de Snape (Alan Rickman, soberbo!), que é atacado por Nagini, a cobra de Voldemort que precisa matá-lo para ter o poder sobre a Varinha das Varinhas. Quase morto, Harry tenta ajudá-lo, mas com lágrimas escorrendo pelo rosto, Snape apenas pede para que o jovem bruxo colete algumas gotas e as coloque na Penseira. Com isso temos a melhor cena do filme: o flashback da vida de Severo até o momento da morte de Dumbledore. E claro, a última frase em vida, direcionada ao menino Potter. Emocionante!

A professora Minerva McGonnagal (Maggie Smith, fantástica mesmo com pouco tempo na tela) passa a comandar a defesa de Hogwarts durante uma batalha contra Voldemort, Comensais da Morte e gigantes! Tudo é grandioso e bem realizado. Os efeitos estão com um acabamento sem igual na série. A fotografia novamente confere uma aura de tensão. E as atuações estão muito boas. O trio principal consegue um nível de interpretação que só havia visto em O Prisioneiro de Azkaban. E a cena dos três em Gringotes é divertida e emocionante.

Harry continua a caça às horcruxes ao lado de Ron e Hermione para destruir Voldemort. Mas, o fardo está pesando. A cena de Ron e Hermione na Câmara Secreta é uma das mais apaixonantes da saga. O filme evoca a maturidade que essas crianças atingiram após 7 anos em Hogwarts. E a cena de Harry na floresta com Voldemort e os Comensais demonstra toda determinação que alguém pode ter, não importa a idade que tenha, para fazer o que deve ser feito. E Neville, que sempre sofreu como o atrapalhado da turma, tem seu momento de triunfo na batalha.

As Relíquias da Morte - Parte 2 tem alterações em relação ao livro. Mas, algumas mortes de personagens que nos cativaram durante 10 anos estão lá, as lutas, as vitórias. E as lágrimas conseguem rolar na face dos fãs e não-fãs que se encantaram por esse final tão épico.


segunda-feira, 11 de julho de 2011

O Deus do Trovão

Uma peça do quebra-cabeça. Assim, que podemos encarar Thor, filme sobre o herói asgardiano. Mais um passo nos planos da Marvel de trazer às telas o projeto Vingadores. O diretor Kenneth Branagh tem em mãos uma boa história e um elenco talentoso aliados a um desenvolvimento automático e efeitos canastrões, que hora funcionam a contento e em outros beiram a vergonha alheia. Com a ação ocorrendo em três planetas diferentes, há momentos que as viagens se tornam enfadonhas.

Na Terra, os cientistas Jane Foster (Natalie Portman linda como sempre e bem à vontade no papel) e Erik Selvig estudam fenômenos estranhos que estão acontecendo na atmosfera. Até que encontram um cara perdido no deserto que parece ser de outro mundo e é: Thor (Chris Hemsworth se aproveitando mais dos músculos do que talento para atuação). O Deus do Trovão está desorientado e com a ajuda de Jane e seus amigos, tentam encontrar o martelo de Odin (Anthony Hopkins, ganhando uma grana extra), que está encravado numa rocha e os agentes da SHIELD estão tentando descobrir o que é e protegendo o local.

Em Asgard, Loki (Tom Hiddleston, muito à vontade) descobre um segredo de família, ele tenta destruir a terra do inimigo gelado Laufey, rei de Jotunheim e, ascender ao trono de Odin que está em "coma". Os amigos de Thor tentam resgatá-lo da Terra e usam o portal dos mundos para viajar ao nosso planeta. Mas, Loki manda um sentinela para impedi-los. Enquanto isso, a SHIELD rouba os dados de Jane sobre os fenômenos e Thor vira alvo de pesquisa científicas. Até que consegue ser salvo e volta a Asgard para acertar contas com o irmão.

Um filme movimentado, com pitadas de ação, comédia e romance com pano de fundo mitológico. A Marvel entrega mais uma peça para a saga dos Vingadores, por isso ao final da sessão (até mesmo após a cena pós-crédito que dá detalhes do filme com os heróis que estreia em 2012) temos a sensação de algo inacabado e feito às pressas, apresentando altos e baixos bem delineados. Pelo menos, entregou a mocinha mais bela e com melhor atuação até agora dos filmes que servem de alicerce para o filme do ano que vem: Natalie Portman deixa no chinelo Liv Tyler (O Incrível Hulk) e Gwyneth Paltrow (Homem de Ferro 1 e 2). Uma diversão mediana, que se não fosse pela expectativa de algo maior à frente, seria facilmente esquecido.



domingo, 12 de junho de 2011

Cidade Maravilhosa


O diretor brasileiro Carlos Saldanha já foi da pré-história (na série A Era do Gelo) ao futuro (no divertido Robôs), mas agora ele volta para a terra natal e faz uma homenagem à Cidade Maravilhosa em Rio. O filme em inglês tem no elenco principal os indicados ao Oscar, Anne Hathaway e Jesse Eisenberg, o oscarizado Jamie Foxx, o brasileiro Rodrigo Santoro e o cantor Will.I.Am, do grupo Black Eyed Pies. Com esse time de estrelas, ele conta a história de Blu, uma arara azul traficada da floresta da Tijuca para os EUA, onde acaba sendo criada por Linda, uma simpática adoradora de aves. No Brasil, o ornitólogo Tulio (Santoro nas versões em inglês e português) cuida de Jade, uma fêmea da espécie de Blu, da qual eles são os últimos representantes. Então, ele viaja aos EUA para fazer Linda trazer Blu ao Brasil para que ele e Jade possam perpetuar a espécie.


O filme abre com Blu ainda bebê, aprendendo a voar e é capturado por traficantes de animais selvagens. Nos EUA, ele cai do caminhão e é encontrado por uma garota, Linda, que cuida dele e crescem juntos como amigos verdadeiros. Mas, Blu não aprende a voar. Linda fica em dúvidas, mas aceita a proposta de Tulio e vai ao Brasil. Entretanto, o pássaro tem um problema: Jade é forte, inteligente, voa muito bem e não liga para o que os outros pensam. Ela quer voltar para a vida na floresta e tenta escapar a todo custo. No meio da madrugada, eles são sequestrados por traficantes de animais. Aí começa a aventura do casal de araras azuis pelo Rio de Janeiro. O grupo de traficantes tem uma cacatua Nigel, que aterroriza as pequenas aves, responsável pelo melhor momento musical do filme. Depois segue um jogo de gato e rato pelo Rio, mostrando as praias, o carnaval e o Maracanã. Tudo bem clichê. Enquanto, Blu e Jade vão se aventurando pelo Rio de Janeiro, andando de bonde, voando, fugindo e se apaixonando. Túlio e Linda enquanto procuram as ararinhas, também vão se conhecendo melhor e rola um clima, paralelamente aos azuizinhos.


Aliás, o que incomoda é parecer um filme feito por americano, não por um diretor brasileiro. As situações são surreais. Afinal, Brasil contra Argentina no Maracanã durante o carnaval? Entrar com uma kombi com uma galinha de papel no meio da Sapucaí durante um desfile? Encontrar fantasias perdidas na concentração do sambódromo? Macacos assaltantes? Ok, é uma animação, mas podia ser um pouco mais fiel. É um filme para estrangeiro ver com aquele pensamento de um Brasil com muita criminalidade e festa todo dia. Isso não detona todo o filme, mas as músicas com seus "láialáláialá" são irritantes. O filme diverte e é um excelente cartão-postal das belas paisagens cariocas, porém termina com a sensação que poderia ter sido bem melhor.


sexta-feira, 25 de março de 2011

Os ETs Estão Chegando Outra Vez

As grandes batalhas entre humanos e extraterrestres sempre ocorrem nos Estados Unidos. Após vencerem a Segunda Guerra Mundial, eles acreditam que são os únicos com capacidade para eliminar qualquer inimigo, seja ele soviético, comunista, islâmico, terrorista de qualquer espécie, robôs ou aliens vindos dos confins do universos para aniquilar os terráqueos. Com essa premissa, já conhecida e batida, o novo Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles aproveita o pequeno orçamento (míseros US$ 70 milhões) para cair direto na ação e não explicar muita coisa, não aprofundar nos personagens e ainda assim, ser longo o suficiente para causar desconforto nos espectadores.

Sinopse rápida: ETs atacam a Terra para colonizar o planeta em busca, supostamente, de água. As grandes cidades do mundo sucumbiram e a última resistência humana é em Los Angeles. Um militar que fracassou no último trabalho é convocado para auxiliar um jovem tenente na luta contra os invasores do espaço. O sargento Michael Nantz tenta passar por cima da derrota anterior para apoiar da melhor maneira possível os jovens do grupo (Aaron Eckhart vai ao limite para dar credibilidade ao seu papel de velho mau visto pelos novatos). Além de salvar a humanidade, têm que lutar para salvar as próprias contra um inimigo que é uma máquina de caçar e destruir sem piedade.

Em uma Los Angeles totalmente destruída e lutando contra seres mais avançados tecnologicamente, o exército, marinha e aeronáutica dos Estados Unidos unem forças para vencer a batalha. Os efeitos tem um bom acabamento, a fotografia com predomínio de tons cinzas, bege e marrom. Os diálogos são rasos, tanto quanto os personagens e frases de efeito são proferidas a todo instante. Michelle Rodriguez novamente brilha fazendo aquilo que ela sabe de melhor: atirar, matar e chutar a bunda de vilões, no caso, os ETs. Batalha de Los Angeles apresenta um tipo alien diferente: híbrido entre máquina e ser vivo, que se utiliza da água para sobreviver (aquele elemento natural que temos em abundância, tornando os invasores mais fortes).

Muitos tiros, explosões, gritos e motores de naves aliens mostram um capricho na edição e mixagem de som da película. Em alguns momentos beira o ensurdecedor! Mas, não há batalha, correria e tentativa de passar um pingo de emoção que sustente as quase duas horas de projeção. Ao final, temos um filme divertido e arrastado que, se durasse uns 20 minutos a menos seria um dos grandes pipocas do ano. Batalha de Los Angeles promete, entretanto não cumpre e, não chega ao nível de clássicos do gênero como Independence Day, Distrito 9 e Sinais, apesar das boas intenções.




sábado, 19 de março de 2011

Faroeste Animado

Gore Verbinski fez o seu melhor filme. Rango é um faroeste animal, encantador e onírico. A história do jovem camaleão de estimação que se perde na mudança é cheia de surrealismo, homenagens a clássicos do western, uma qualidade visual impecável, uma trilha que emula Ennio Morricone a cada nota e Johnny Depp com a melhor atuação dele nos últimos anos. Aliás, a dupla já havia feito sucesso juntos na trilogia Piratas do Caribe e aqui, Verbinski mostra como emocionar e fazer rir, com um pouco de adrenalina, saudosismo e ousadia para uma animação.

O camaleão de estimação cai do caminhão de mudança e se perde no meio do deserto. Sozinho num lugar inóspito tenta conseguir ajuda e encontra uma cidade do Velho Oeste, habitada por animais encrenqueiros e desolada pela falta d'água. Entra num saloon e conta mil e uma histórias, o estranho encarna o personagem e a fama corre pela cidade, que ele seja um assassino de bandidos, o perigoso Rango. É nomeado xerife da cidade pelo prefeito e tem a companhia da donzela Feijão, que sofre com a seca na fazenda que herdou do pai. Juntos decidem descobrir porque a água sumiu e enfrentam diversos inimigos, como uma família de toupeiras e uma cascavel violenta. E temos as corujas-mariachis que narram e cantam o filme todo e são um show à parte.

Verbinski brinca de citar e homenagear clássicos do faroeste. Ainda assim, encontra espaço para momentos psicodélicos como as cenas do sonho de Rango e quando ele encontra o "Espírito do Oeste" no meio do deserto. Com uma história nada infantil, tem mocinhos, mocinhas, vilões e passa cenas com certo apelo de violência, afinal, nada é fácil na vida no velho oeste. E ainda, tem tempo para tocar em assuntos de responsabilidade social e política: o consumo racional da água e a disputa de poder a partir do domínio deste recurso natural. Rango é a cara de Johnny Depp, um camaleão que inventa personagens e se camufla em cada um para fazer sucesso por onde passa.

Uma grande animação, com cenas belíssimas (incluindo a cópia de uma cena de Depp em Piratas do Caribe ou a perseguição no meio do deserto), uma trilha que leva o espectador no ritmo do filme inspirada em Ennio Morricone, um roteiro divertido e bem elaborado. Caso as animações e os westerns de 2011 mantiverem o nível de Rango, será um ano excepcional, afinal o filme cumpre muito bem o papel nos dois gêneros. 




quinta-feira, 10 de março de 2011

O Rei Venceu

Assim como no Oscar 2011, o vencedor do Carnaval 2011 no Rio de Janeiro foi o rei. Roberto Carlos, cantor e compositor brasileiro mais reconhecido no mundo foi tema da Beija-Flor de Nilópolis e levou a escola azul e branca ao 12º título. Mas, a vitória é da comunidade nilopolitana, que levou com samba no pé e na ponta da língua sem perder a força em 1h17min de desfile pela Sapucaí. Em segundo lugar ficou a Unidos da Tijuca e em terceiro a Estação Primeira de Mangueira. Com uma significativa vantagem de 1,4 pontos, muita gente criticou o resultado. Eram cinco jurados para cada quesito e, a menor e a maior nota eram descartadas, para haver uma regularidade entre as notas.

O primeiro quesito apurado foi a Harmonia, que leva em consideração elementos como o entrosamento entre canto e ritmo de componentes e intérprete, além do canto do samba-enredo pela totalidade da escola. Apenas Beija-Flor e Mangueira levaram nota máxima, as duas agremiações apresentaram letras simples, ritmo cadenciado que facilitava o canto de seus componentes e, por serem escolas com uma comunidade forte, o chão da escola se sobrepôs. Salgueiro e Vila Isabel perderam um décimo. Surpresa foi a Porto da Pedra perder 0,8 pontos nesse quesito.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira foi o segundo quesito avaliado. Apenas a Mangueira obteve os 30 pontos. A Beija-Flor perdeu 1 décimo, nota criticada por alguns, mas os jurados foram benevolentes com o fato da pista estar com óleo devido um vazamento no carro da Porto da Pedra. A avaliação aqui remete ao bailado entre o casal, a fantasia em relação ao tema e aos movimentos. O mestre-sala deve cortejar a dama e proteger o pavilhão, enquanto a porta-bandeira deve apresentar e conduzir a bandeira. Deve-se penalizar queda e/ou perda, mesmo que acidental, de parte da indumentária, como chapéu, sapato, esplendor.

No quesito Conjunto são avaliados a uniformidade da apresentação da escola em todas as suas formas de expressão (musical, dramática e visual) e a integração da escola, o "todo" do desfile. Beija-Flor que se apresentou compacta, leve e animada não perdeu pontos. A Mocidade Independente de Padre Miguel obteve a segunda melhor nota do quesito com 29,8. Talvez o excesso de alas coreografadas tenha prejudicado a Tijuca, que vem teatralizando o seu carnaval, deixando o samba no pé de lado.

A Evolução é a progressão da dança de acordo com ritmo do samba e cadência da Bateria. A coesão do desfile está em jogo: correria e retrocessos, embolação de alas e buracos na avenida são penalizados. A espontaneidade, criatividade, empolgação e vibração dos componentes são avaliados. Com os descartes, a Beija-Flor levou nota máxima. Vila Isabel, Mangueira e Mocidade saíram com 29,9. A correria de algumas escolas levaram a queda nas notas. Salgueiro mesmo com o atraso de 10 minutos perdeu apenas 0,8 décimos.

A Comissão de Frente tem como função saudar o público e apresentar a escola. Tijuca, Salgueiro e Beija-Flor com notas máximas. A Mangueira, vencedora do Estandarte de Ouro nesta categoria perdeu um décimo, assim como a Imperatriz Leopoldinense. A escola nilopolitana inovou ao unir Comissão de Frente e Mestre-Sala e Porta-Bandeira, num gesto de apresentar não somente a escola, mas também o pavilhão, seu símbolo maior.

As Fantasias de comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira e dos integrantes dos carros alegóricos não são levadas em consideração. As demais fantasias são julgadas aqui, respeitando a concepção e adequação ao Enredo, a criatividade mantendo o significado dentro do tema, o acabamento, a uniformidade dos detalhes. A Beija-Flor deixou o luxo e grandiosidade de fora e trouxe fantasias menores e mais leves, para que seus componentes pudessem sambar mais à vontade, o que influenciaria em outros quesitos como conjunto e evolução. Assim, a escola de Nilópolis, bem como a Tijuca e o Salgueiro levaram 10. A Mangueira com 29,6 foi uma grande surpresa, pois a escola desfilou elegantemente para contar a história de Nelson Cavaquinho.

Alegorias e Adereços foi crucial na apuração, onde a Mangueira perdeu 1,6 pontos, levando a menor nota do quesito. As alegorias são os elementos cenográficos sobre rodas (carros e tripés) e Adereços são os itens que não estão sobre rodas. Beija-Flor e Tijuca garantiram a nota máxima. A azul e branco de Nilópolis fez carros grandes, mas leves que deslizaram com exuberância pela Sapucaí. A azul e amarelo do Borel trouxe carros gigantescos e pesados, o abre-alas deu problema para sair da avenida e precisou ser desmontado no início da dispersão. O Salgueiro que apresentou problemas em três carros teve apenas 0,5 ponto de punição, enquanto Mocidade, Imperatriz, Porto da Pedra e Mangueira tiveram perdas severas.

O Enredo é a criação e apresentação artística do tema. Julga-se coesão e coerência do tema, a apresentação sequencial (o roteiro fornecido no Livro Abre-Alas) e a capacidade de compreensão do enredo a partir da associação entre argumento e desenvolvimento na avenida. As homenagens bem elaboradas e contadas por Mangueira e Beija-Flor conquistaram 30 pontos. A confusão estabelecida pelos delírios de Paulo Barros e seu "Esta noite levarei sua alma" que misturou diversos tipos de filmes, não somente terror e suspense como ficava aparente pela sinopse, fez a Tijuca perder significativos 4 décimos.

A Bateria, o coração da escola, onde o ritmo de cada sambista é moldado pela regência dos seus mestres. Deve-se considerar a manutenção regular e sustentação da cadência da Bateria em consonância com o Samba-Enredo, a perfeita harmonia entre os sons de todos os instrumentos e a criatividade e versatilidade. Os jurados não gostaram da "paradinha" de quase meio minuto da Mangueira e levou um 9,0 que foi descartado e escola verde e rosa perdeu 2 décimos. Novamente, apenas Tijuca e Beija-Flor garantiram 30 pontos. A surpresa foi a Mocidade perdendo 0,8.

O último quesito apurado na Apoteose foi Samba-Enredo. O jurado avalia letra e melodia, respeitando a licença poética. Metade da nota vai para Letra, sendo ela descritiva ou interpretativa, quando ela conta o Enredo sem se ater em detalhes. A avaliação de Letra vai para adequação ao enredo, riqueza poética, beleza e bom gosto e sua adaptação a melodia. A outra metade vai para Melodia, considerando as características rítmicas do samba, a riqueza melódica e o bom gosto de seus desenhos musicais e a capacidade de sua harmonia musical facilitar o canto e a dança dos componentes. A Mangueira foi a única nota máxima, os sambistas da verde e rosa e a torcida empurraram com garra e amor, o samba em homenagem ao "Filho Fiel". Beija-Flor e Salgueiro perderam apenas um décimo, apesar do chão das duas escolas entrarem forte na avenida, conquistando a Sapucaí.

Ilha, Grande Rio e Portela não foram julgadas devido o incêndio na Cidade do Samba que destruiu seus barracos, mas a Portela foi punida em R$ 100 mil, por ter estourado o tempo do desfile. No geral, a volta do Salgueiro para o desfile das campeãs foi inesperado, pois teve problemas com 3 carros, terminou o desfile com 10 minutos de atraso e não perdeu muitos pontos em alegorias e adereços, nem em conjunto e até a nota de evolução não foi tão baixa. Tijuca com o "teatro sambado" foi vice, não sustentando a coroa de 2010, mesmo com a comissão de frente perdendo a cabeça. A Mangueira com um belo desfile, mas com problemas na organização conseguiu um honroso 3º lugar. A Vila Isabel com Rosa Magalhães fez um desfile bonito, mas o tema "cabelo" atrapalhou e terminou em 4º. Fechando o desfile das campeãs, a Imperatriz com a história da medicina. A Beija-Flor que mudou o estilo, fazendo jus ao título do samba "A Simplicidade de um Rei", veio leve, divertida e com uma comunidade comprometida fazendo empolgar os jurados e a presença de Roberto Carlos emocionando o público. Um título justo, para um ano onde nenhuma escola mostrou todo seu potencial e problemas como incêndio, chuva e óleo marcaram o carnaval carioca.




segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Oscar 2011

Uma noite de gala, revivendo momentos marcantes da história. O Oscar 2011 estava com cara que ia se retratar de erros históricos e entrar com pé direito e de cabeça na nova década do século XXI. Entretanto, ao anunciar o melhor filme, Steven Spielberg lembrou grandes filmes vencedores e filmes ainda maiores que foram derrotados que, nesta noite vencedor e perdedores estariam bem acompanhados. Ao lembrar de um certo derrotado, já sentíamos que O Discurso do Rei seria o ganhador, pois A Rede Social que poderia tirar o prêmio, consagrou-se como o Cidadão Kane do nosso tempo.

A Disney fez a festa levando 4 prêmios, dois por Toy Story 3 - melhor animação e melhor canção com "We Belong Together" e, dois por Alice no País das Maravilhas - melhor figurino e melhor direção de arte. A Pixar mantém o reinado nos últimos 4 anos. Com A Origem levando 4 estatuetas (Efeitos Visuais, Fotografia, Mixagem de Som e Edição de Som), sendo o maior vencedor em quantidade da noite ao lado de O Discurso do Rei, outro filme da Warner manteve o tabu e saiu de mãos vazias: Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1, a saga bilionária do menino bruxo que concorria em Direção de Arte e Efeitos Visuais.

O Vencedor brigou e venceu nas categorias de ator e atriz coadjuvantes: Christian Bale e Melissa Leo, ela que recebeu a estatueta de Kirk Douglas, viu o prêmio ser incerto após problemas de autopromoção e campanha a favor da nova Hailee Steinfeld, de Bravura Indômita. Aliás, a refilmagem do western pelos irmãos Coen entrou na briga com 10 indicações e não levou nada, uma decepção, visto que merecia levar em Fotografia, que era simplesmente deslumbrante. E Cisne Negro viu sua bailarina Natalie Portman brilhar e emocionar o público com o Oscar de melhor atriz.

A Dinamarca levou melhor filme estrangeiro com o drama Em Um Mundo Melhor. Enquanto, o Brasil que era cenário do concorrente a documentário Lixo Extraordinário, viu o careca dourado para na mão de Trabalho Interno, sobre a crise econômica dos últimos anos. Entre os curtas-metragem os vencedores foram: o documentário Strangers No More, a animação The Lost Thing e o melhor curta-metragem God of Love. E o terrível filme O Lobisomem ganhou como melhor maquiagem, talvez a única coisa que realmente presta na película.

Os apresentadores Anne Hathaway e James Franco se esforçaram, ela se saiu bem melhor que o colega, que também estava indicado ao prêmio de melhor ator por 127 Horas. O palco com um cenário mais clean deixou a festa com mais interação entre cenário e atores. Os números musicais foram bonitos, apesar que no In Memorian poderiam ter colocado outra cantora no lugar de Celine Dion. Mas, foi uma festa democrática e rápida. Até Josh Brolin e Javier Bardem deram selinho no palco.

Na briga principal estavam A Rede Social e O Discurso do Rei. O filme sobre o rei inglês George VI abriu a festa perdendo prêmios, de 12 indicações levou apenas 4, mas quando levou o Oscar de melhor diretor para Tom Hooper, após ter ganho melhor roteiro original, colocava uma mão na categoria principal. E antes disso, garantiu o esperado melhor ator para Colin Firth. A história do Facebook levou um duro golpe com a derrota do diretor David Fincher, mas chegava confiante para o último envelope, afinal, já havia garantido melhor trilha sonora, roteiro adaptado e montagem, os dois últimos considerados importantes para levar ao filme do ano. Entretanto, quando Spielberg anunciou O Discurso do Rei melhor filme de 2010, percebemos que a Academia de Cinema dos Estados Unidos ainda é uma terra de velhotes, que não gostam de ousar e escolheram o politicamente e plasticamente correto filme de Hooper em detrimento ao ousado, criativo e genial A Rede Social, que nada mais é do que um reflexo da atualidade, dos relacionamentos humanos e do poder da internet.