segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Boxe Metálico

No futuro, homens não praticarão boxe, o esporte exigia violência demasiada de um público sedento por sangue. Assim, os robôs entraram nos ringues em duelos mortais. Charlie Kenton (Hugh Jackman, fazendo papel de pai-herói) é um ex-boxeador fracassado, que trabalha com robôs velhos tentando ganhar uma grana no mundo da luta entre os autômatos. Essa é a premissa inicial de Gigantes de Aço.

A ex-mulher morre e deixa como presente o filho de 11 anos, Max (o simpático garoto Dakota Goyo) que ele nunca quis conhecer. Então, os tios do menino que querem a guarda, fazem um acordo e assim, o mercenário Charlie troca o filho por dinheiro para liquidar dívidas. Porém, terá que passar o verão com ele. A partir daí, temos uma jornada da descoberta da relação pai-filho e como os anos afastados ainda assim os deixou parecidos na personalidade.

Charlie ainda tem um relacionamento tempestivo com a bela Bailey Tallet (Evangeline Lilly, bonita como sempre). E é assombrado pelo fantasma do fracasso como lutador ao perder uma grande final quando jovem. Então, num ferro velho de robôs, sob forte tempestade Max cai num penhasco é salvo por Atom, um robô sucateado, que ele adota como herói e quer levá-lo aos ringues.

A partir daí a história adaptada do romance Steel (de Richard Matheson, 1954) e produzida por Steven Spielberg vira um drama sobre como a relação pai e filho pode se aproximar diante de um interesse comum, intercalada com momentos de lutas violentas nos ringues. E ainda ganha contornos de crítica ao consumismo e ao avanço da modernidade (de forma superficial) com a trama sobre a empresa que comanda as lutas e quer acabar com os robôs ultrapassados. Com robôs realísticos, uma trilha sonora calcada no pop e rap americano, o filme diverte, mas é bem descartável. Gigantes de Aço é um filme pipoca bem feito e nada mais, que conseguiu preencher uma das vagas na categoria de Efeitos Visuais do Oscar 2012.



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Top 10 de 2011

2011 se passou e após algumas sessões de cinema, uns filmes em DVD e não ter visto algumas estreias do ano, tenho uma lista dos meus 10 filmes favoritos.

1- O Espião Que Sabia Demais: A Inteligência Britânica está no meio do embate entre Estados Unidos e União Soviética, são tempos da Guerra Fria e um agente duplo está infiltrado no topo do Circo inglês para repassar informações a Moscou. Gary Oldman é o espião britânico aposentado George Smiley que é chamado por Control (John Hurt, soberbo) para descobrir quem é o traidor. Um jogo de espiões, verdades, mentiras, pistas escondidas, assassinatos, romances e o clima de tensão aumentando entre os membros do Circo. Baseado na obra de John Le Carré e contando com astros como o oscarizado Colin Firth e Tom Hardy, é um dos melhores filmes de espionagem da história do cinema. Mas, quem comanda o show é Gary Oldman numa atuação fria, calculista e emocionante, que lhe garantiu passagem para indicação ao Oscar 2012.

2- A Árvore da Vida: Vida, morte, pais, filhos, eternidade. Terrence Malick vai do início do mundo aos dias atuais e o além, para contar uma saga de amor, devoção, medo e amadurecimento. A relação entre o Sr. e a Sra. O'Brien (Brad Pitt e Jessica Chastain, respectivamente) e seus filhos, principalmente, Jack (na fase adulta interpretado por Sean Penn), o filho mais velho que questiona as atitudes do pai autoritário. No futuro, vemos como as escolhas se refletem na vida das pessoas. E como o caminho da graça e da natureza influenciam a vida e a morte. Um filme de fotografia deslumbrante, com uma trilha cativante. A montagem não linear, os momentos de contemplação e devaneios tornam a experiência ainda mais sensorial e astral.

3- O Palhaço: Elenco de primeira, produção caprichada e uma história simples, assim é o melhor filme nacional de 2011. Assim, Selton Mello desponta como um diretor promissor e mostra porque é um dos melhores atores de sua geração. No interior de Minas Gerais, uma trupe de circo viaja, cidade a cidade, em busca do público. Diante das dificuldades, o jovem palhaço Pangaré (Selton) que assumiu o circo no lugar do  pai palhaço Puro Sangue (Paulo José numa atuação magistral) começa a questionar sobre a vida na estrada sob a lona que cobre o picadeiro. Um drama realista com pinceladas de comédia, equilibrado na medida certa para emocionar.

4- A Pele Que Habito: Pedro Almodóvar conta um drama do médico cirurgião plástico Robert Ledgard (Antonio Banderas oscilando entre o bem e o mal com personalidade) assombrado pela morte da esposa, que se matou após sofrer um acidente e ter o corpo queimado e deformado e, da filha tinha problemas de convívio social depois de ser estuprada por um rapaz numa festa. Então, ele se enclausura na casa que servia de clinica para cuidar de Vera (Elena Anaya, belíssima), uma jovem com um sério problema de sensibilidade da pele. Com a temática médica, envolvendo a ética nos experimentos de novos tratamentos e a sexualidade tratada de forma mais implícita que em outros filmes do diretor, Almodóvar entrega uma obra intrigante e perturbadora. As reviravoltas e o clima de tensão crescente deixam o filme ainda mais interessante.

5- Planeta dos Macacos - A Origem: O reboot do clássico de 1968, serve para elucidar uma questão importante na série: como os macacos dominaram o mundo? A resposta veio num espetáculo de efeitos especiais, principalmente, dos macacos digitais baseados na captura de movimento e num roteiro inteligente e atual, ao questionar o experimento de novos medicamentos em animais. Will Rodman (James Franco servindo de escada para os macacos) trabalha numa nova droga para a cura do Alzheimer, doença que acomete seu pai, porém o projeto é cancelado. Um bebê macaco sobrevive e Will resolve cuidar dele e o leva para casa. Ceasar (Andy Serkis mostrando porque é o melhor ator digital da história) cresce e atinge uma maturidade intelectual anormal para espécie e após problemas com a vizinhança é levado para um criadouro de símios. Ceasar percebe como eles podem ser melhores que os humanos que os criam como animais selvagens e irracionais, e conta com a ajuda da droga que lhe fez evoluir. A partir daí temos a origem da revolução dos macacos liderados por Ceasar, que culmina com uma batalha épica na ponte Golden Gate, em São Francisco.

6- As Aventuras de Tintim - O Segredo do Licorne: Sob a batuta de Steven Spielberg e produção de Peter Jackson, as aventuras do jovem jornalista belga Tintim (Jamie Bell) e seu cachorro Milu baseado nas histórias em quadrinhos de Hergé, ganhou vida em animação realizada com captura de movimentos. Tintim compra uma réplica do navio Licorne que esconde um segredo secular e um mapa para um tesouro perdido. Com a ajuda do capitão Haddock (Andy Serkis, ele outra vez), herdeiro do segredo do tesouro, eles atravessam o mundo, enfrentam perigos e o vilão Rackham (Daniel Craig, o 007). Como obra cinematográfica é um deslumbre para os olhos, com sequências de uma beleza sem igual e entretenimento de primeira, mas parece faltar um pouco da aura mágica das HQs na qual tem origem, que é melhor representada nos excepcionais créditos iniciais.

7- Contágio: Um vírus ganha escala mundial ao se espalhar rapidamente, sem nenhuma previsão de controle ou cura. Steven Soderbergh conta com crueza e detalhismo como o contágio de um vírus pode mudar a vida das pessoas e deixar a humanidade em pânico generalizado. Além de explicitar como os órgãos sanitários e de saúde agem sob pressão, com uma nova ameaça tão mortal e devastadora, a fim de encontrar a cura e acalmar a população de todo planeta. No elenco estelar Kate Winslet, Matt Damon, Gwyneth Paltrow, Laurence Fishburne, Jude Law e Marion Cotillard. Com uma direção arrojada, um roteiro seguro e uma trilha sonora hipnotizante, o filme segura o espectador na poltrona do início ao fim com um certo pavor, principalmente, ao relembrar as paranoias de epidemias como as gripes aviária e suína.

8- Rango: Gore Verbinski ficou famoso ao dirigir a louca trilogia Piratas do Caribe, mas é aqui em Rango, que ele mostra competência, maturidade e dá a Johnny Depp seu melhor papel desde o capitão Jack Sparrow, no primeiro filme dos piratas da Disney. Rango é um camaleão de estimação que após um acidente se perde no meio do deserto de Mojave e vai parar na cidade de Poeira, onde a falta d'água deixa a população em polvorosa na busca por um herói que traga água e acabe com os bandidos que assolam o lugar. Uma animação com tom de faroeste que diverte pirralhos e adultos e esbanja personalidade e criatividade, envolto numa camada de psicodelismo e delírios ao som de mariachis.

9- Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2: Tudo termina aqui. A saga do menino bruxo que há 10 anos vinha arrastando multidões aos cinemas teve um fim digno e bem realizado. Após a primeira parte do capítulo final ter sido repleta de momentos de contemplação e mostrou a dor dos personagens diante de dias tão sombrios, aqui os bruxos caem na ação e a guerra entre o bem e o mal é pra valer. Porém, é no último diálogo entre Harry (Daniel Radcliffe, menos canastrão) e Snape (Alan Rickman, perfeito) que temos a melhor cena do filme e encontramos as respostas para a salvação do mundo e a ruína de Voldemort. Efeitos especiais honestos, cenários grandiosos, fotografia exuberante e uma trilha mais sombria dão os toques finais para um dos melhores blockbusters de 2011, que se tornou a terceira maior bilheteria mundial da história.

10- Os Muppets: Eles estão de volta! Os bonecos que animaram gerações voltam fazendo piada de si próprios ao contar a história dos irmãos Gary (Jason Segel, fã e produtor) e Walter (um muppet que é fã dos muppets) que descobrem um plano do malvado Tex Richman (Chris Cooper, hilário) em destruir o teatro dos Muppets e abrir um poço de petróleo. Os irmãos vão atrás dos Muppets que estão espalhados pelo mundo para arrecadar 10 milhões de dólares para reaverem o local, enquanto Gary enfrenta problemas no romance com Mary (Amy Adams, encantadora). Eles resolvem fazer um "teleton" dos Muppets com Kermit, Pig e a turma toda, porém nenhuma emissora quer transmitir porque eles estão esquecidos pelo público e as crianças de hoje não sabem quem eles são. Com musicais relembrando os números de décadas atrás, com alegria e uma doce inocência, o filme é uma ode ao passado, quando programas infantis não precisavam apelar para violência, sensualidade ou efeitos tecnológicos. Além de contar com inúmeras e surpreendentes participações especiais.



domingo, 20 de novembro de 2011

A Segunda Vez

Agora, um jogo rápido sobre três continuações que deram as caras esse ano na telona no meio do ano. Um tira-teima sobre a segunda vez de filmes de sucesso nos cinemas.

Se Beber, Não Case 2: A gangue de amigos atrapalhados estão de volta. O cenário é a Tailândia e a história é uma cópia deslavada do primeiro filme. Tão absurdo e chato, que os momentos mais hilários ocorrem somente com as fotos da desventura nos créditos finais. Ainda assim, é uma das maiores bilheterias do ano e na história das comédias adultas só perde para o primeiro filme da série. Uma fortuna embolsada pela Warner para fazer mais uma viagem exótica numa despedida de solteiro da trupe encabeçada pelo insuportável Alan (Zach Galifianakis mais horrível do que nunca). A amnésia pós-bebedeira e muito besteirol é a medida do filme que perde fôlego e cai na mesmice, sem criatividade e muita escatologia.

Carros 2: A Pixar mantinha um nível em seus filmes que demonstrava toda criatividade e competência do estúdio, mas como ninguém é perfeito, teve sua primeira falha na velocidade de um relâmpago! A continuação de Carros (o original era divertido, mas já não era grande coisa) tem uma trama de espionagem ao redor do mundo, saindo do circuito fechado das corridas americanas tipo Nascar e ganhando o mundo num torneio intercontinental. A relação da dupla Relâmpago McQueen e Mate é explorada ao extremo e a elevação do guincho a personagem principal acaba enfraquecendo a história. Salva-se pelas referências à Fórmula 1 e ao espião James Bond, mas não empolga com as corridas.

Kung Fu Panda 2: Depois de afundar a série Shrek com os episódios 3 e 4, a Dreamworks resolveu apostar em outra continuação de um de seus melhores filmes: Kung Fu Panda. O original recheado de ação e aventura para contar a história do atrapalhado panda Po, que sonhava em ser lutador de kung fu e se torna o Dragão Guerreiro, agora dá espaço para uma trama envolvendo família, origens e uma profecia. O lendário pavão Shen, um filho de nobres que foi banido por querer a guerra, volta a agir com canhões e um exército de lobos para dominar a China e acabar com o kung fu. Assim, Po e os Cinco Furiosos (Tigresa, Macaco, Louva-Deus, Garça e Víbora) terão trabalho para derrotar o inimigo e por isso contarão com a ajuda dos mestres Crocodilo, Boi Toró e Rino Trovão. Enfim, Kung Fu Panda 2 amplia e melhora a história do primeiro com mais ação e emoção, alternando momentos de luta com sentimentalismo, como na história do pai ganso de Po. Além disso, o visual está caprichado, a trilha dita o ritmo com perfeição e as piadas são hilárias. Um filme pra toda família e com muita qualidade.



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sob a Lona

Ventilador. No interior de Minas Gerais, a trupe do Circo Esperança viaja, cidade por cidade, para levar seu espetáculo. Em meio a poeira, calor e privações, esses artistas enfrentam cada obstáculo com o intuito de levar o sorriso e alegria ao rosto de cada morador destes lugares distantes. Valdemar/Palhaço Puro Sangue (Paulo José, vencendo o Parkinson e entregando uma atuação arrebatadora) e Benjamin/Palhaço Pangaré (Selton Mello, mostrando desenvoltura à frente e atrás das câmeras) são pai e filho, respectivamente, e donos do circo. Com a idade avançando, Valdemar passa a Benjamin o trabalho de levar o circo em frente.

Dona Zaira, a velha palhaça não tem mais sutiã para os peitos caídos. Lola, a dançarina rebola com a espada, namora Puro Sangue e embolsa a grana da bilheteria. Os cantores sempre inventam uma desculpa para conseguir um extra. O mágico vive na corda-bamba para cuidar da mulher e da filha, a pequena Guilhermina, que cresce pelo mundo convivendo com os tipos mais excêntricos sem paradeiro e com muito malabarismo para contornar as mais difíceis situações. A cada parada, novos personagens, novas histórias, novos desentendimentos.

Nesse ambiente insólito do picadeiro, Benjamin tenta encontrar um significado para viver. As cobranças dos artistas do Circo Esperança aumentam. Ele tenta fazer um crediário, conseguir um emprego, sair do circo e encontrar uma nova vida, um amor, uma identidade e um ventilador. Afinal, um rapaz já crescido que vivia perambulando pelo mundo, atravessando as serras mineiras, não tinha identidade, CPF, nenhum documento além de uma surrada certidão de nascimento.

Com uma fotografia em tons quentes e envelhecidos para nos situar numa época antiga, onde ventilador era artigo de luxo e o vermelhão da poeira contrasta com o verde das plantações e matas que são cortadas pelas estradas de chão, vamos enveredando por uma história de dor, riso, melancolia e superação. Cada quadro é como se o diretor e ator principal da obra queira fazer uma pintura, um retrato dos sentimentos de cada personagem, que reflete um período e ainda assim são emoções genuínas e atemporais. Há uma inocência marcada pelo tom onírico que a obra se desenvolve. Um ideal de que não importa o que aconteça, somos aquilo que nascemos para ser.

A câmera sempre vai dos opostos: da proximidade intimista com o personagem na tela, um detalhe, um olhar; ou parte do chão até o céu entrecortado pelos morros, num plano amplo, que faz perder a vista no horizonte. Esse cuidado visual acompanhado de atuações honestas embaladas por uma trilha prazerosa e emocional, acaba por entregar o melhor filme nacional de 2011 com sobras e um dos melhores da década com tranquilidade. Selton Mello demonstra maturidade autoral para dirigir uma obra singela que faz rir e chorar nos momentos certos e ao final, as luzes do picadeiro se apagam sob os aplausos entusiasmados do público em pé.




terça-feira, 25 de outubro de 2011

Super Humanos

Toda saga tem um começo. Em 2000, quando a Fox e a Marvel mostraram ao mundo os X-Men: O Filme de Bryan Singer, as adaptações de histórias em quadrinhos ganharam uma nova chance, após os fracasos de Batman & Robin (1997), O Fantasma (1996), entre outros que afundaram o gênero. Com um elenco encabeçado por dois atores consagrados: Patrick Stewart (como Professor Charles Xavier, líder dos X-Men) e IanMcKellen (como Magneto, o grande inimigo dos mutantes do bem), era uma esperança no fim do túnel.

Após o sucesso de X-Men: O Filme, os cinemas viraram um segundo lar dos super-heróis e personagens das HQs. Grandes sucessos de público de crítica (X-Men 2, Homem-Aranha 1 e 2 e Homem-de-Ferro pelos lados da Marvel e Batman Begins e TDK pela DC) e vários fracassos retumbantes (Elektra e Mulher-Gato só pra citar os mais vergonhosos). A saga X-Men teve outros capítulos com: X2 (2003) X-Men: O Confronto Final (2006) X-Men Origins: Wolverine (2009). Sendo que, os dois últimos apesar de um desempenho razoável nas bilheterias foi massacrado pela crítica e também pela opinião do público.

Eis que, numa tentativa de resgatar a série, a Fox produziu em tempo recorde uma prequel da história dos mutantes, contando a origem da escola do jovem Professor Charles Xavier (James McAvoy, de O Procurado) sua amizade e posterior, rivalidade com Erik Lehnsherr (Michael Fassbender, de Bastardos Inglórios). Assim, é X-Men: Primeira Classe. Muitas dúvidas pairavam sobre a produção comandada por Matthew Vaungh, as primeiras imagens e trailers não empolgavam e o futuro dos mutantes se tornava cada vez mais incerto.

Quando junho chegou, o mundo recebeu a nova aventura dos X-Men com um pé atrás e foi surpreendida. Com uma história focando no desenvolvimento dos personagens e as relações entre eles até haver o rompimento enter Charles e Erik, o filme conquistou boas críticas e o desempenho modesto nas bilheterias deve abrir caminho para uma continuação. Com elenco afiado, com destaque também para Jennifer Lawrence na pele azulada de Mística e o vilão Sebastian Shaw, interpretado por Kevin Bacon.

O roteiro segue pelos anseios e medos dos mutantes frente a um mundo preconceituoso. E também, o medo que nós, humanos comuns, temos do novo, do desconhecido. Sob a sombra da Guerra Fria, Erik vai se tornando Magneto, um homem rancoroso que sofreu traumas durante a Segunda Guerra Mundial e não confia mais na humanidade, acreditando que os mutantes são o futuro do mundo com seus poderes e habilidades especiais.

Charles ainda confia numa convivência pacífica entre homems e mutantes, desde cedo sempre soube de suas capacidades. A amizade desde a infância com Raven (a futura Mística) tinha um tom de protecionismo e também, um preconceito velado, devido a aparência da garota que só queria ser normal. A partir daí, as amizades vão criando os elos entre mocinhos e vilões até culminar com uma batalha na praia entre mutantes, americanos, soviéticos e o futuro de cada um é selado.

X-Men: Primeira Classe é um filme sobre sentimentos e o desejo que faz mover a vida de cada um. Aparentemente, novos rumos para uma saga que parecia saturada e fadada a novos fracassos. Mas, que num projeto simples, com efeitos modestos e um trabalho esforçado de toda equipe, rendeu uma obra divertida e interessante. Temos a primeira reunião dos X-Men (com personagens que não aparecem na trilogia original como Alex Summers, irmão de Ciclope) e cenas marcantes como a chuva de corpos na invasão da base promovida por Azazel (sim, o futuro pai de Noturno). E num filme com tantas alternativas, a pergunta central é: até onde vai a nossa humanidade?




domingo, 2 de outubro de 2011

A Vida, A Árvore, O Universo

O que é importante na vida? Sucesso? Família? Ambição? Amor? Terrence Malick vai ao íntimo destas questões com muita competência em A Árvore da Vida. Com uma pitada de surrealismo, doses cavalares de silêncio, momentos de longa contemplação do tempo e da vida, o diretor nos leva a uma viagem ao interior de nossos sonhos, desejos, anseios e questionamentos de forma única e magistral.

As cenas, geralmente, em primeiríssimo plano, como se a própria câmera fosse um personagem, dá um tom intimista e observador. Ações, gestos e olhares que falam mais do que as palavras e, estas são raras. Pouco se fala. Às vezes, palavras soltas, desconexas, fazem alusão à família, a Deus, a criação do Universo e como devemos agir diante do mundo, ressaltando a importância de nossas escolhas.

Acompanhamos a jornada da família O'Brien. O patriarca vivido por Brad Pitt é um homem duro, obstinado, que deixou pra trás o sonho de ser músico para trabalhar numa empresa que poderia ter maiores lucros. Desde cedo, ensina aos filhos a serem fortes. Porém, isso faz com que os três meninos sintam repúdio, rebeldia, questionam a motivação do pai, que ensina uma coisa e faz o contrário.

A mãe (Jessica Chastain, linda) cândida, doce e jovial, mostra uma realidade mais amena, feita a partir das escolhas e da fé. Entretanto, o filho mais velho, Jack (na infância vivido pelo garoto Hunter McCracken, e adulto o oscarizado Sean Penn) vai além, ao questionar a autoridade dos pais, visto que a mãe é submissa e o pai um homem que coloca o sucesso acima de tudo.

O filme vai e volta no tempo, para mostrar o caminho da Natureza e o da Graça. A fé em algo superior que move toda a vida. A natureza implacável, que tudo quer, tudo pode, não importa o que estiver à frente. Basta escolher qual seguir. Com isso, vamos da origem de tudo, do Universo, da vida até os dias atuais e além. Vida e morte se confundem, sonhos e realidade, amor e compaixão, fortuna e infortúnio.

Malick faz uma obra para poucos. O ritmo lento, cadenciado por cenas de simplesmente nenhum diálogo e nenhum ator em cena. Porém, quem acompanha a saga até o fim, vê a construção de personagens comuns, como eu, você ou alguém que conheça. Adultos que depositam nos filhos, os sonhos que tinham na infância. Crianças que não aguentam cobranças e brigas, que querem crescer ao seu modo. Irmãos unidos, apesar das diferenças. Uma fraternidade que amplifica o sentimento de união, como na cena em que Jack pede perdão ao irmão por uma brincadeira.

A Árvore da Vida a cada quadro mostra porque levou a Palma de Ouro em Cannes de melhor filme em 2011. Mesmo com tanta pompa e circunstância, para muitos é um exercício de estilo e soberba. Enquanto, quem consegue adentrar na viagem lisérgica proposta pelo diretor, consegue abstrair sensações e emoções nos pequenos detalhes que são alavancados por uma trilha arrebatadora e atuações cruas, naturais. Um grande fílme, que tem a capacidade de tocar a alma, a fé e a eternidade. Afinal, como diz a Sra. O'Brien: "A menos que você ame, sua vida passará rapidamente".



Tesouras Fabulosas

Era 1990, o esquisitão Tim Burton entrega ao mundo a primeira parceria com o ator Jhonny Depp, uma fábula sobre um jovem, uma criatura incompleta e ingênua, que viveu isolado numa mansão e agora, tem que enfrentar a civilização quando uma vendedora da Avon bate à sua porta. Edward Mãos de Tesoura é um marco na carreira de Burton e Depp, além de trazer no elenco Winona Ryder como a doce Kim e, Dianne Wiest como a vendedora Peg.

Vicent Price (em seu último trabalho no cinema à frente das câmeras) é um inventor solitário que mora numa mansão no topo de uma colina. Uma mancha negra na imagem da bucólica cidade do interior dos EUA que parece viver nos anos 50, apesar de estar no início da década de 1990. Em sua residência constrói máquinas variadas, mas é a criação de um filho o maior desafio. Incompleto, com tesouras no lugar das mãos, o homem fica sozinho com a morte de seu criador. Com essa homenagem ao clássico Frakenstein, Burton dá vida a uma fábula sobre a perca da inocência num mundo frio e cruel.

Peg está em mais um dia de trabalho como revendedora de cosméticos, porta a porta sem sucesso, até que se depara com a mansão abandonada. Ela entra para ver se há alguém e no último andar, em meio a escombros surge um homem, uma criatura com corpo humano e tesouras no lugar das mãos. Por compaixão, ela o leva para casa com intenção de cuidar deste menino, que não sabe nada da vida fora daquela prisão, onde ficou por anos afastado do convívio social após a morte de seu criador.

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Assim, começa a saga de Edward na cidade. Para alguns, um ser demoníaco vindo do inferno para destruir suas vidas. Para outros, uma atração exótica de um circo de horrores. Com muita habilidade e criatividade despertar interesse por sua habilidade em fazer esculturas em plantas e cortes de cabelos. Mas, o inocente jovem se apaixona por Kim e sem discernir o certo do errado, Edward atende os pedidos de Jim (Anthony Michael Hall), namorado de Kim, e se mete em confusões que podem mandá-lo de volta ao confinamento.

A fábula de Burton transita entre o visual gótico de Edward e sua mansão com a "alegria" do american way of life com casas coloridas de Suburbia. Com sutileza fala sobre as aparências e como as pessoas julgam as outras pela imagem. A dificuldade de um estranho em se ajustar a um mundo que não conhece e uma sociedade preconceituosa. Entretanto, é no amor puro que Edward nutre por Kim que o filme tem seu ápice. A cena da escultura de gelo e ela dançando sob a "neve" que cai é a síntese desse conto de fadas.

Destaque para a trilha sonora Danny Elfman que acompanha a aventura de Edward até o ato final na mansão de forma magistral. A maquiagem para dar as cicatrizes a Depp é fantástica, cruel e linda. O trabalho da direção de arte em misturar o gótico e o bucólico para distinguir bem a origem de cada um, além das esculturas em arbustos e gelo, é um dos mais criativos já vistos na grande tela.

Um filme épico, apaixonante e que marca o início de uma longa parceria entre Burton e Depp, que entre altos e baixos, tem neste primeiro filme talvez o melhor encontro. Além de ser o grande responsável pela paixão cinematográfica que tenho, pois foi a parte de Edward Mãos de Tesoura que comecei a me interessar pelo cinema, ainda criança. Afinal, aqui o mundo descobriu de onde vem a neve.







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